“Isso não é justiça, é abuso de poder!” A frase cortou o silêncio da audiência pública sobre embargos ambientais no Acre como um grito vindo das entranhas da floresta. O autor foi o vereador Alcemir Teodósio (UB), de Xapuri, que transformou sua fala em denúncia pública contra o Instituto Chico Mendes (ICMBio). Segundo ele, famílias extrativistas estão sendo tratadas como criminosas, sem direito à informação, defesa ou sequer notificação formal. “Antes de fiscalizar, é dever do Estado informar”, disparou.
Teodósio relatou que agentes ambientais estariam realizando blitzes ilegais, parando motociclistas nos ramais, confiscando motosserras regularizadas e até armas de caça devidamente cadastradas. Mais grave: segundo ele, uma ponte usada por 80 crianças para ir à escola foi destruída sob a justificativa de conter supostos crimes ambientais. “Eles agem como se fossem donos da terra, mas não têm poder de polícia. Isso é atribuição de outros órgãos. Estão extrapolando”, afirmou ao Correio OnLine.
O vereador também denunciou a ausência do Estado nas áreas protegidas. Para ele, faltam políticas públicas reais e sobram repressão e discursos internacionais sobre preservação. “O Brasil promete à Europa que vai proteger a floresta. Mas onde está o investimento para garantir renda digna a quem vive nela? O ICMBio deveria treinar sindicatos, criar folhetos, orientar o povo. O que vemos é blitz em ramais e serras cortadas sem ordem judicial.”
Ao rebater a imagem construída de que há “fazendeiros na floresta”, o parlamentar lembrou que as famílias da reserva dividem entre si parcelas pequenas de terra, e muitas são netas dos primeiros seringueiros. “O Estado precisa parar de oprimir e começar a proteger. Quem nasceu e vive ali merece respeito, dignidade e justiça. O que está acontecendo é um Estado que mete medo, não um que estende a mão”, finalizou.