Governo do Acre renova contrato de jatinho por R$ 8,5 milhões em meio ao colapso social

Foto Ilustrativa Internet

Em um estado onde crianças assistem aula no chão, escolas funcionam em estruturas de madeira sem energia elétrica e parte da população ainda vive sem água tratada ou acesso a esgoto, o governo do Acre decidiu renovar o contrato com a empresa Ortiz Táxi Aéreo Ltda., especializada em fretamento de aeronaves executivas. O valor: R$ 8,5 milhões. A decisão consta no Diário Oficial do Acre do dia 6 de junho de 2025 e prorroga por mais 12 meses a vigência do contrato, de 23 de junho de 2025 a 23 de junho de 2026. Segundo o documento, os voos atendem às “necessidades do Gabinete do Governador” e compreendem trechos nacionais e internacionais.

A renovação do contrato chama atenção diante do abandono de setores essenciais da vida pública. Dados do Instituto Trata Brasil revelam que apenas 48% da população do Acre têm acesso à água tratada, e somente 10% contam com coleta de esgoto. Na capital, a situação não melhora muito: Rio Branco registra 53,5% de cobertura de água potável e apenas 20,7% de coleta, com menos de 1% do esgoto efetivamente tratado. Para cada acreano, o investimento médio anual em saneamento é de R$ 30 — muito abaixo dos R$ 231 considerados ideais pelo Novo Marco Legal do Saneamento.

A situação nas escolas públicas também é alarmante. Em diversas comunidades rurais, alunos estudam em locais improvisados, sem estrutura mínima. As próprias comunidades têm apelidado os espaços de “escolas-curral”. Falta água, merenda, carteiras adequadas e iluminação. Em muitos casos, são os professores que bancam os materiais escolares do próprio bolso. “Tem lugar onde as crianças estudam no chão, e os professores tiram do próprio salário para comprar giz, papel, até comida. Mas o jatinho tá garantido, né?”, desabafou um professor da zona rural, sob condição de anonimato.

Na saúde, o cenário também é de abandono. Apenas 46% dos domicílios no Acre são atendidos por equipes do Programa Saúde da Família. A cobertura de planos privados é mínima: apenas 12,6% da população tem acesso a serviços de saúde suplementar. A estrutura hospitalar do interior é frágil, e o acesso a exames e medicamentos básicos é limitado em diversas regiões.

A situação habitacional também preocupa. Com quase 40% da população vivendo abaixo da linha da pobreza, milhares de famílias enfrentam insegurança alimentar, moradias precárias e desemprego. Um relatório recente apontou Rio Branco como a 5ª pior capital do país em qualidade de vida, à frente apenas de cidades historicamente negligenciadas.

Mesmo diante desse cenário, o governo ainda prorrogou outro contrato com a empresa A.L.P. Gutierrez para serviços de lavagem e higienização de veículos — mais uma despesa que gera questionamentos sobre as prioridades da gestão estadual. O valor dessa renovação não foi divulgado, mas reforça o contraste entre os investimentos em conforto institucional e a dura realidade da maioria da população.

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