Feminicídios avançam no Brasil e Acre lidera ranking proporcional de mortes

Foto: Ilustrativa

O Brasil registrou uma média de quatro feminicídios por dia em 2024, totalizando 1.459 mulheres assassinadas apenas por serem mulheres, segundo o Mapa da Segurança Pública 2025, divulgado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. A taxa nacional é de 1,34 caso para cada 100 mil mulheres, mas a situação é ainda mais grave em regiões como o Centro-Oeste, onde esse número chega a 1,87.

Além dos feminicídios, o país também bateu recorde no número de estupros: foram 83.114 casos registrados ao longo do ano, o maior número em cinco anos. A média foi de 227 estupros por dia, sendo que 86% das vítimas são mulheres. Enquanto São Paulo lidera em números absolutos, com 15.989 casos, os estados de Rondônia, Roraima e Amapá concentram as maiores taxas proporcionais.

No Acre, a situação não é menos alarmante. Apenas em 2024, o estado já contabilizou sete feminicídios, de acordo com levantamento feito pelo portal G1 Acre. Em 2023, o estado registrou uma taxa de 2,4 feminicídios por 100 mil mulheres, a segunda maior do Brasil, empatando com Rondônia e Tocantins. Esse índice representa um aumento de 11,1% em relação a 2022.

Desde 2018, o Ministério Público do Acre já registrou 77 casos de feminicídio consumado e 111 tentativas. Todos os casos consumados foram elucidados. As informações são do Feminicidômetro, plataforma pública desenvolvida pelo MPAC para acompanhar em tempo real os crimes contra a vida de mulheres no estado.

Entraves

Apesar dos esforços institucionais, o Judiciário acreano ainda enfrenta entraves importantes. De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Tribunal de Justiça do Acre tem uma taxa de congestionamento de 79,8% nos processos relacionados à violência contra a mulher. Além disso, apenas 42,5% dos processos novos foram baixados pelas varas exclusivas — o menor índice entre todos os tribunais do país.

Em 2022, o TJAC realizou duas grandes edições da “Semana da Justiça pela Paz em Casa”, com mutirões de júris e audiências que resultaram em mais de 700 atos processuais e dezenas de medidas protetivas concedidas. A Coordenadoria Estadual das Mulheres (COMSIV) também atua com capacitação de magistrados, triagem processual e articulação com outras instituições.

Especialistas apontam que a resposta à escalada de feminicídios deve ser imediata e articulada. É necessário fortalecer as delegacias especializadas, ampliar o funcionamento de abrigos e centros de atendimento à mulher e promover ações educativas sobre igualdade de gênero nas escolas. A articulação entre Judiciário, Ministério Público, polícias, assistência social e sociedade civil é essencial para prevenir novas mortes e garantir acolhimento digno às vítimas.

Com população estimada em cerca de 900 mil habitantes, o Acre enfrenta o desafio de enfrentar uma violência estrutural contra a mulher em um cenário de baixa densidade populacional, fronteiras vulneráveis e comunidades isoladas. Muitos dos crimes são cometidos por companheiros ou ex-companheiros, e 88% das vítimas fatais não chegaram a pedir ajuda ou denunciar o agressor.

Compartilhar