“Desabastecimento acontece toda semana”, denuncia moradores
O abastecimento de água do Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (SAERB) é afetado semanalmente em algumas regiões da capital acreana, como no Conjunto Esperança, Rui Lino, Xavier Maia e Apolônio Sales, segundo os moradores entrevistados.
A falta de água, que afeta a rotina diária por comprometer a higiene pessoal, os cuidados com a casa e a alimentação, acontece há anos, sendo um problema negligenciado pela administração pública, aponta o morador do Xavier Maia, Pedro Rafael.
“Aqui na parte alta, se você não tiver um poço ou três caixas de água, precisa racionar agua semanalmente. Esse não é um problema de ontem, é uma coisa que já tá acontecendo há muitos anos e ninguém resolve. É isso é um problema geral da parte alta. O Saerb sabe que falta água, só não resolve.”
“Aqui no bairro, normalmente, pelo menos de 10 em 10 dias tem algum tipo de reclamação de vários moradores, porque a água não sobe, aqui tem ladeiras e a água não chega em certos locais. Já fizemos parte de reuniões com o pessoal do SAERB, fizemos reclamações, mas acaba que eles sempre dizem que tem um problema, que vai ser resolvido, mas depois voltamos a ficar sem água”, relata a fisioterapeuta e moradora do bairro Apolônio Sales, Hanyelle Magalhães.
Em Rio Branco, existem duas estações de tratamento de água. Para justificar o desabastecimento, o Saerb declara acúmulo de balseiros nas unidades e também problemas nas bombas de distribuição, prometendo uma breve resolução para a falta, que segundo os moradores, não é solucionado.
“Aqui em casa acontece quase toda semana. Já reclamei para a Saerb várias vezes, eles dizem que é problema no maquinário ou que está chovendo pouco”, conta a moradora do conjunto Esperança, Patrícia Oliveira.
No Rui Lino, os moradores relatam ficar “a mercê da própria sorte”, esperando se o abastecimento vai acontecer ou não. “Já desisti dessa água da Saerb e minha nova meta é fazer um poço”, conta a moradora Marcileia da Silva.
Novo sistema de abastecimento
O prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom declarou em coletiva de imprensa dada na última sexta (10), que obras de contenção não resolve o problema de abastecimento de água na capital, mas que isso será solucionado por meio de um novo projeto. Segundo Bocalom, o projeto conta com um novo sistema de abastecimento de água, que irá renovar as bombas e os tubos das Estações de Tratamento da capital.
“Estamos entrando com um projeto no valor de 14 milhões, já deixamos também essa conversa encaminhada lá com o ministério e com a Defesa Civil. Esse é o dinheiro que a gente precisa para poder colocar as novas bombas e os novos tubos para poder tirar a água da dali”.
O prefeito disse também que o projeto deve ser realizado dentro de um prazo de 90 a 120 dias, e que aguarda pelo recurso.
Situação de emergência
A situação de emergência da Estação de Tratamento de Água II foi reconhecida pelo governo federal. A portaria, assinada pelo secretário nacional de proteção e defesa civil, Wolnei Barreiros, foi publicada no Diário Oficial da União no dia nove de maio. O documento tem validade de 180 dias.
A ETA sofreu com erosões constantes desde que as águas do Rio Acre baixaram após a enchente em março deste ano.
A ameaça de colapso na captação de água em Rio Branco foi comunicada ao prefeito pelo diretor-presidente do Saerb/Foto: Reprodução
O decreto, segundo o prefeito, facilita a compra de insumos para restaurar a estação de tratamento sem que fosse necessário passar pelos processos normais de licitação. “Facilita a gente comprar peças, comprar máquinas, comprar motores pra poder atender rapidamente”, disse na época.
O diretor-presidente do Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (Saerb), Enoque Ferreira, explicou a imprensa que, atualmente, a ETA está estável, mas ainda é possível perceber movimentação no solo ao redor dela. A ETA II é responsável pela cobertura de 60% dos bairros da capital.
Sequência de problemas
Desde a cheia do Rio Acre que a população de Rio Branco enfrenta problemas para receber água. Em março, a distribuição foi reduzida e chegou a ser suspensa porque as estações I e II apresentaram problemas. De acordo com o Saerb, as equipes conseguiram concluir a manutenção ainda naquele mês.
Logo depois, no início de abril, a captação voltou a ser reduzida na ETA II por conta de um desmoronamento de terra que compromete a estrutura. Foram três bairros afetados pela redução. No dia 2 daquele mês, o coordenador da Defesa Civil Municipal, tenente-coronel Cláudio Falcão, esteve na ETA II para uma avaliação na estrutura.
O coordenador destacou que houve uma vazão muito rápida do nível do Rio Acre. Em menos de um mês, as águas baixaram de 17,89 metros, maior cota registrada este ano, para 4,48 metros nesta terça. O rio baixou mais de 13 metros neste período.
“Com isso arrastou, evidentemente, o solo aqui. Nessa mesma data ano passado o rio estava com mais de 17 metros. Mostra que precisamos buscar soluções viáveis para poder fazer o abastecimento de água para Rio Branco”, argumentou.
No dia 25 de abril, uma pane elétrica em uma unidade elevatória comprometeu o abastecimento de água em Rio Branco. Dessa vez, o problema ocorreu no Centro de Reservação Central do bairro João Eduardo. Cerca de 50 bairros das seguintes regionais tiveram o abastecimento comprometido.
A previsão era que o serviço fosse normalizado até dia 30 de abril, porém, no dia seguinte 1º de maio ocorreu a nova interrupção.
“Teve um princípio de incêndio, que atingiu dois painéis, tivemos que desligar todo o sistema e também prejudicou até a rede da Energisa. [Equipes] Foram lá de madrugada, fez a parte [de manutenção], mas precisava trocar esses equipamentos. Tínhamos equipamentos de reserva, mas para trocar não é fácil, tem um fusível que não tem aqui, vimos em Porto Velho e estamos tentando realocar agora”, explicou o diretor-presidente do Saerb, Enoque Pereira.
Saerb convocada na Câmara
O problema da falta de água em diversos bairros da Capital é apresentado semanalmente também durante as sessões da Câmara Municipal de Rio Branco. Em consequência disso, a Casa Legislativa convocou o presidente da Saerb, Enoque Pereira, para apresentar como os investimentos do sistema de abastecimento de água estão sendo utilizados, especialmente, após o governo federal reconhecer situação de emergência na ETA II.