Ex-sargento do trisal deixa a prisão após quase dois anos no Acre

Foto: Arquivo pessoal

A Justiça do Acre revogou a prisão preventiva do ex-sargento da Polícia Militar Erisson de Melo Nery e concedeu a liberdade para ele no último dia 24. O ex-militar começou a usar tornozeleira eletrônica, não pode se aproximar das vítimas e testemunhas, entre o cumprimento de outras medidas cautelares.

O ex-militar foi preso em novembro de 2021 por atirar no estudante Flávio Endres Ferreira durante uma briga em um bar de Epitaciolândia, no interior do Acre. Neste caso, ele responde por tentativa de homicídio qualificado por motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima, porte ilegal de arma de fogo de uso permitido e lesão corporal grave.

Ele ainda responde criminalmente pela morte de um adolescente de 13 anos em 2017. Em fevereiro deste ano, a Polícia Militar decidiu expulsar Nery da corporação por entender que o ex-militar feriu a conduta ao atirar no estudante. Os dois processos contra Nery ainda não foram julgados.

Nery ficou nacionalmente conhecido após assumir um trisal com outras duas mulheres, em 2021. À época, eles criaram um perfil nas redes sociais para compartilhar o dia a dia.

Ainda segundo a defesa, um dos argumentos utilizados no pedido de liberdade é o de que o ex-sargento foi aprovado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2022 e também passou em dois cursos na Universidade Federal do Acre (Ufac). As aulas devem começar no final de setembro.

“Esse foi um dos motivos. Temos outros. O processo dele está em fase recursal e estamos aguardando a análise do Poder Judiciário do recurso em andamento”, concluiu.

Sobre Nery ter sido expulso da PM, o advogado confirmou que ele segue fora do quadro da corporação, porém, há um procedimento em andamento para reverter a decisão do comando.

Conhecido por trisa

A história de Nery teve grande repercussão em junho de 2021, quando ele assumiu viver um trisal ao lado da também policial militar Alda Nery e da administradora Darlene Oliveira.

“Como a gente gosta dela e ela gosta da gente, íamos sair e dizer que ela é o que nossa? Minha amiga, minha prima? E as pessoas viriam dar em cima dela, e a gente ia ficar com a cara mexendo? Então, se gostamos o suficiente para estar com ela, tem que gostar para assumir para a sociedade, porque ela nunca foi só sexo”, explicou Alda na época.

Cinco meses depois, o trisal estava no bar quando iniciou a briga, e o sargento acabou atirando no estudante. Na época, Nery chegou a falar que agrediu e atirou em Flávio Endres, porque ele tinha assediado Alda.

“O cara molestou minha esposa, e ela foi tomar satisfação imediatamente. Mas, ele deu um murro na cara da Alda que ela caiu apagada e com a boca cortada. Aí, quando eu vi ela daquele jeito, fui atrás do cara. Lá fora entramos em luta corporal e eu atirei nele. Foram dois disparos, todos pegaram nele. Ele está estável e foi transferido para Rio Branco”, alegou na época.

Adolescente morto

Nery é acusado da morte do adolescente Fernando de Jesus, de 13 anos, em 2017, quando o rapaz tentou furtar casa do sargento, em Rio Branco.

Conforme a denúncia, na manhã do dia 24 de novembro de 2017, Nery matou o adolescente com pelo menos seis tiros, no intuito de “fazer justiça pelas próprias mãos”. O caso ocorreu no conjunto Canaã, bairro Areal.

O adolescente teria ido com outros dois homens, não identificados, furtar a casa do então cabo da Polícia Militar. E, ao perceberem a chegada de uma viatura da polícia, os dois maiores de idade conseguiram pular o muro e fugir, enquanto que Fernando de Jesus foi deixado para trás pelos comparsas e acabou morto pelo policial.

Após o homicídio, ainda segundo a denúncia, Nery e o policial militar Ítalo Cordeiro alteraram a cena do crime, lavando tanto o corpo da vítima quanto os arredores do local onde estava caído, para poder alegar que agiu em legítima defesa.

Os militares teriam ainda colocado a pistola na mão direita do adolescente e fotografado. E, antes da chegada da perícia, decidiram mover a arma a uma distância de cerca de 13 centímetros da mão do menino.

Depois da suposta alteração da cena do crime, o MP disse que ficou a cargo do militar Ítalo Cordeiro fazer o boletim de ocorrência alegando que o adolescente tentou disparar contra a cabeça de Nery, que agiu para se defender. Sobre esse crime, ele foi ouvido no ano passado.

Nery foi denunciado em julho de 2021 pelo Ministério Público do Acre (MP-AC) pelos crimes de homicídio e fraude processual, e a denúncia foi aceita um dia depois pela Justiça.

O processo tramita na 1ª Vara do Tribunal do Júri. Além de Nery, Ítalo Cordeiro também responde no processo por fraude processual. (G1)

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