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No segundo painel do 24º Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido pela ABAG e pela B3, especialistas debateram o tema “Agro Brasil com crescimento sustentável: financiamento e mercado de capitais”. O encontro, moderado pelo jornalista William Waack, reuniu representantes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Kijani Investimentos, Ambima, B3 e Sicob.
O superintendente de Securitização e Agronegócio da CVM, Bruno Gomes, destacou a evolução recente da aproximação entre o agronegócio e o mercado de capitais, impulsionada pelo Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e, mais recentemente, pelo FIAGRO. Segundo ele, há mais de 100 fundos FIAGRO no país, com patrimônio líquido de R$ 44 bilhões e cerca de 600 mil investidores pessoas físicas. No entanto, o setor ainda representa apenas 3,5% do mercado de capitais, apesar de responder por 25% do PIB nacional. “O desafio é ampliar o conhecimento dos produtores sobre esses instrumentos”, afirmou.
Já Bruno Santana, CEO e fundador da Kijani Investimentos, ressaltou que a priorização histórica do agro foi voltada para a operação e a produtividade, e só nos últimos anos a estrutura financeira passou a ser prioridade. Para ele, a alta demanda de crédito e a limitação fiscal do governo exigem soluções inovadoras e maior uso do mercado de capitais, sem abrir mão do crédito rural subsidiado. Santana também citou gargalos como a falta de infraestrutura de armazenagem, que compromete a autonomia do produtor.
A diretora da Ambima, Flávia Palacios, apontou a necessidade de “educação de mão dupla” — tanto dos investidores sobre a realidade do campo, quanto dos produtores sobre as regras e exigências do mercado de capitais. Ela defendeu padronização e divulgação de dados como ferramenta para aumentar a confiança, além de ampliar o acesso de investidores institucionais e estrangeiros ao agro.
Luiz Mazagão, vice-presidente de Produtos e Clientes da B3, reforçou o papel da bolsa na criação de instrumentos e no fortalecimento do mercado secundário, o que pode ampliar prazos e melhorar a precificação de ativos ligados ao agro. Ele também defendeu que o Brasil traga para o mercado local a precificação de commodities em que é líder mundial, como soja, café e açúcar.
Por fim, Rafael Silva de Santana, gerente nacional de Agronegócios do Sicob, enfatizou o papel estratégico do cooperativismo de crédito para chegar a regiões onde o sistema bancário tradicional não atua. Ele defendeu que o mercado de capitais avance sem abandonar o crédito rural subsidiado, ressaltando a necessidade de encontrar soluções para o “médio produtor” — que não se enquadra nas políticas de pequenos agricultores e também não compete em igualdade com grandes produtores.