Foto: Portal Correio online
A série especial “Agricultura à Deriva” segue revelando a realidade da agricultura familiar no Acre. No segundo capítulo, o drama dos produtores não é apenas plantar sem apoio, mas ver o fruto do trabalho se perder por falta de mercado e até de pagamento.

Anderson Negreiros, agricultor no quilômetro 26 da Transacreana, contou ao Correio Online que mesmo com a produção em pé, não encontra saída. “O PNAE está pedindo pouco, os órgãos não compram como antes. A gente investe, planta, mas não tem retorno. Assim fica impossível”, desabafa.

A mesma frustração é vivida por Marlon, também agricultor da região, que afirmou à nossa equipe que os contratos institucionais deixaram de ser um alívio para se tornarem um pesadelo. “A gente começou entregando para a associação, e no início até funcionava. Eles pediam muito produto e pagavam em 30 dias. Mas de uns dois anos pra cá tudo mudou. Os pedidos diminuíram e chegaram a atrasar o pagamento em até sete meses. Quem vive só da agricultura não aguenta”, denuncia.
A fala de Marlon confirma a percepção de outros agricultores: sem mercado institucional e com preços baixos pagos pelos atravessadores, a produção acaba virando prejuízo. Alfaces, couves e cebolinhas que poderiam estar nas escolas e nas mesas das famílias se perdem no campo, enquanto os produtores acumulam dívidas com adubos, defensivos e insumos básicos.

Para o presidente do Sinpasa, Jozimar Ferreira, a situação é insustentável. “Temos merenda escolar, creches e até restaurantes populares que poderiam estar sendo abastecidos pela agricultura familiar. Mas a Prefeitura prefere comprar de grandes fornecedores em vez de priorizar o pequeno produtor. É revoltante ver o alimento se perder, enquanto há tanta gente precisando”, critica.

Entre perdas, dívidas e atrasos, os agricultores familiares seguem tentando resistir. Mas cada atraso no pagamento, cada pedido reduzido e cada caixa de hortaliça descartada empurra o produtor mais perto de abandonar a atividade.
A luta para produzir sem mercado mostra apenas parte da realidade. No terceiro episódio da série “Agricultura à Deriva”, vamos revelar o impacto desse abandono sobre a alimentação de milhares de pessoas: escolas, creches e famílias que poderiam estar recebendo alimentos frescos acabam sendo prejudicadas pelo desperdício.

