ARTIGO DE OPINIÃO
Em um estado onde mais de 57% da população vive com até meio salário mínimo per capita, qualquer política pública que envolva redução de gastos essenciais precisa ser celebrada, analisada e, principalmente, implementada com responsabilidade. É nesse contexto que o projeto Sandbox Tarifário, discutido no último Fórum Brasileiro de Líderes em Energia Elétrica, surge como uma verdadeira janela de esperança para milhares de famílias acreanas.
O novo modelo proposto pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) permite às distribuidoras de energia testar, por meio de ambientes regulatórios experimentais, formas alternativas de cobrança. Não se trata apenas de mudar a fatura — trata-se de adaptar o serviço ao perfil real da população, promovendo economia, previsibilidade e controle sobre um dos principais custos da casa acreana: a energia elétrica.
No Acre, onde o salário médio mensal não ultrapassa os R$ 1.700 e o índice de informalidade beira os 40%, a possibilidade de optar por uma tarifa fixa ou pré-paga pode representar um alívio direto no orçamento das famílias. Para comunidades onde o salário vem do dia a dia, ter controle sobre quanto pagar e quando pagar não é apenas uma conveniência: é uma questão de sobrevivência.
Muitas famílias, especialmente nas áreas periféricas e rurais, enfrentam não apenas o desafio de pagar a conta, mas também o de entendê-la. A fatura atual é confusa, cheia de siglas, encargos e variações que pouco dialogam com a realidade do consumidor médio. O modelo Sandbox pode romper essa barreira, tornando a cobrança mais transparente e compreensível, o que, por sua vez, pode ajudar a reduzir a inadimplência e aumentar a confiança da população no serviço prestado.
Segundo a Energisa Acre, milhares de consumidores têm dificuldades recorrentes em manter suas contas em dia — não por irresponsabilidade, mas por incompatibilidade entre o modelo atual de cobrança e o cotidiano da maioria. Ao permitir que o consumidor escolha o formato mais adequado ao seu uso, o Sandbox Tarifário recoloca o cidadão no centro da política energética, algo há muito tempo negligenciado.
Mas, para que a iniciativa não fique restrita ao papel ou a testes concentrados nos grandes centros, é essencial que a Energisa Acre participe ativamente das próximas chamadas públicas da ANEEL, e que o governo estadual atue como articulador dessas mudanças, buscando garantir que o Acre seja contemplado nos projetos-piloto. Não é apenas sobre inovação: é sobre justiça tarifária.
Em tempos de inflação persistente e renda achatada, a energia elétrica precisa deixar de ser um luxo e voltar a ser um direito básico — acessível, previsível e humano. O Sandbox Tarifário aponta nessa direção. Cabe agora aos nossos gestores e representantes abraçarem essa oportunidade com a urgência que a realidade exige.
Porque no Acre, toda economia é bem-vinda — e toda energia conta.
*Marcela Jansen é Jornalista, colunista política, assessora de Comunicação, editora-chefe e sócia proprietária do jornal O Correio e site Correio OnLine. Advogada na M|J Advogada Associada, pós-graduanda em Direito Eleitoral, Direito e Processo Penal.