Embargos travam mais de cinco mil propriedades no Acre e ameaçam colapso da Amazônia

Foto CMbil

Série especial – “O Grito do Agro”

Damos continuidade à série especial “O Grito do Agro”, uma cobertura do Correio OnLine sobre os impactos dos embargos ambientais na produção rural do Acre. Nesta segunda reportagem, o foco recai sobre o drama de milhares de famílias que, mesmo vivendo da terra há décadas, estão com suas propriedades embargadas e impossibilitadas de produzir, acessar crédito ou regularizar sua situação.

Durante audiência pública na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Tanísio Sá (MDB) revelou que mais de 5 mil propriedades estão embargadas atualmente no estado — um número que, segundo ele, representa não apenas uma crise fundiária, mas uma sentença de paralisação econômica para o Acre rural.

“É gente que abriu a terra com a própria mão, que não pediu ajuda para o governo, não pediu máquina, não pediu financiamento. E agora está proibido até de seguir plantando. Que justiça é essa?”, questionou o parlamentar em tom indignado.

Embargos por drone, decretos e sem aviso

Tanísio classificou os embargos como “decretos silenciosos”, feitos de maneira remota, por imagens de satélite ou drones, e sem qualquer diálogo com os produtores locais. “Hoje o produtor é surpreendido por um embargo, muitas vezes sem saber o motivo. Quando chega ao banco, o financiamento já está travado. E ninguém explica nada”, disse.

Essa situação, segundo o deputado, gera um ambiente de insegurança jurídica e produtiva, que sufoca o setor rural e empurra famílias para o desespero. “A pessoa não sabe se pode abrir mais um hectare, se pode vender o que já colheu, se pode até fazer manejo de madeira legal. O medo virou a regra no campo”, completou.

Anistia: urgência econômica e justiça social

Diante do cenário, Tanísio defendeu abertamente a construção de uma proposta de anistia rural para os produtores afetados — desde que não tenham cometido crimes ambientais dolosos ou intencionais. A ideia é que a bancada federal do Acre, junto aos órgãos de controle e ao governo federal, articule uma saída que libere os embargos de caráter preventivo e abra espaço para regularização fundiária e produtiva.

“Não é para proteger crime. É para proteger gente trabalhadora que tá sendo tratada como bandido só porque planta. Não é justo. São pessoas que sustentam o filho, que pagam faculdade, que sonham em crescer, e agora estão amarradas pelas regras de cima”, defendeu.

O parlamentar também alertou que, se não houver mudança na condução da política ambiental, a região Norte pode entrar em colapso. “O Acre preserva mais de 85% de seu território, e ainda assim é o que mais sofre com embargo. Enquanto isso, outros estados desmatam e seguem produzindo”, comparou.

Segundo ele, a desigualdade nas regras entre Sul, Sudeste e Norte é o retrato de um país que pune quem preserva. “Querem que a gente viva de vender castanha na beira da estrada, de plantar só um pedacinho. O Norte não aguenta mais isso. Vai chegar uma hora que o produtor vai quebrar, a economia vai travar e a juventude vai embora.”

Confira a terceira parte da série especial “O Grito do Agro” nesta quinta-feira, 17.

Foto ICMBIL

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