“Ela foi desacreditada, maltratada, invisibilizada”, diz irmã de jovem vítima de violência emocional e institucional

Foto: Sérgio Vale

Foto: Sérgio Vale

A dor de uma família e a omissão de um Estado. Em um dos momentos mais impactantes da audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), Jaqueline Araújo, irmã da jovem Joyce Araújo, fez um relato cortante sobre a falta de acolhimento institucional que antecedeu a morte da jovem por suicídio.

Joyce havia denunciado o ex-companheiro por violência psicológica e procurado atendimento em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), após ingerir 17 comprimidos em uma tentativa de tirar a própria vida. Segundo Jaqueline, mesmo assim, nada foi feito.

“A Joyce foi desacreditada, maltratada psicologicamente, não teve apoio. Tudo o que ela sofreu foi invisibilizado. Ela fez denúncia e foi ignorada. Procurou ajuda na UPA e foi mandada para casa. E mesmo depois da tentativa, nada foi feito”, declarou a irmã, visivelmente abalada.

A audiência, proposta pela deputada estadual Michelle Melo (PDT), reuniu representantes do Ministério Público, OAB, Defensoria Pública, Secretaria da Mulher e sociedade civil para discutir o que muitos já reconhecem como feminicídio psicológico e institucional.

Jaqueline também revelou que tem provas de que a irmã foi torturada emocionalmente. “Estamos abalados, eu não consigo trabalhar. Isso não pode ficar assim. A gente pede justiça.”

Feminicídio psicológico: quando o abandono também mata

A defensora pública Bárbara Abreu afirmou que Joyce não morreu apenas por conta da violência do agressor, mas também pela ausência de suporte das instituições. “A Lei 14.847/2024, já em vigor, determina que o SUS acolha mulheres em situação de violência. Joyce deveria ter sido amparada, mas foi mandada embora. Quem vai ser responsabilizado por essa omissão?”, questionou.

A promotora Patrícia Rêgo defendeu que o caso seja tratado como marco jurídico: “Fazer justiça por Joyce exige memória, responsabilização e garantia de não repetição. O sistema de justiça não pode continuar naturalizando a revitimização.”

Carta Joyce e audiência no Congresso

A deputada Michelle Melo anunciou que será elaborada a “Carta Joyce Araújo”, um documento público que será entregue ao Congresso Nacional, cobrando a regulamentação urgente de projetos que tratam de estelionato sentimental e violência emocional.

“Vamos fazer da história da Joyce uma virada. Nenhuma mulher pode gritar até morrer para ser ouvida”, afirmou a parlamentar.

Outro encaminhamento será o envio da carta a líderes religiosos no estado. “O Acre é um dos estados mais cristãos do Brasil. Precisamos mobilizar as igrejas para que a fé seja instrumento de respeito, não de opressão.”

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