EDITORIAL
Quando os indicadores educacionais do Acre foram divulgados neste mês, os dados rapidamente ganharam manchetes destacando avanços nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Mas por trás das vitórias pontuais, o que os números realmente revelam é um sistema marcado por desigualdades estruturais, exclusão educacional e a negligência histórica com os estudantes das zonas rurais e comunidades isoladas.
A aparente estabilidade nos índices como o IDEB não pode ser celebrada com entusiasmo quando o ensino médio no estado segue afundado em taxas alarmantes de evasão, reprovação e distorção idade-série. No Acre, mais de 35% dos alunos do ensino médio estão fora da etapa escolar adequada à sua idade, evidenciando um ciclo de fracasso que se perpetua geração após geração.
A situação é ainda mais grave quando se observa a infraestrutura das escolas públicas acreanas: quase 90% sem laboratórios de informática, mais da metade sem bibliotecas, escolas sem coleta de lixo regular e apenas 33% com acesso à água tratada nas zonas rurais. Como se pode exigir que um aluno aprenda sob essas condições?
Não é possível pensar em qualidade educacional sem encarar de frente as faltas estruturais que impedem o aprendizado. A ausência de transporte escolar eficiente, a desconexão digital e a precariedade física dos prédios escolares não são meros entraves — são mecanismos de exclusão.
Além disso, os professores da rede estadual continuam lutando por valorização salarial e melhores condições de trabalho. Salas superlotadas, falta de material pedagógico, e carga horária abusiva não são o cenário de uma educação em progresso, mas sim de uma categoria à beira do esgotamento.
Mesmo com os esforços recentes, como concursos públicos e programas como o Pé-de-Meia, ainda falta à gestão estadual e ao governo federal uma política de Estado para a educação amazônica — que vá além das ações emergenciais e atinja, com equidade, comunidades indígenas, ribeirinhas e rurais.
Enquanto o discurso otimista continua sendo vendido em relatórios e entrevistas oficiais, a realidade vivida por milhares de crianças e jovens no interior do Acre segue marcada pela ausência de direitos básicos. Educação, aqui, ainda é privilégio — e não um direito efetivado.
Portanto, o que se exige é mais do que celebrações pontuais: é compromisso com a transformação estrutural da educação, com metas reais, investimentos sustentáveis e, principalmente, vontade política. O Acre não precisa apenas de boas notas no IDEB — precisa de escolas de verdade.