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O economista e professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Orlando Sabino, alertou que o crescimento econômico do estado não tem sido acompanhado por investimentos públicos capazes de sustentar o desenvolvimento de longo prazo — especialmente nas áreas rural e de infraestrutura.
Durante exposição na Câmara Municipal de Rio Branco, Sabino apresentou dados que mostram um cenário de avanço desigual: o Produto Interno Bruto (PIB) do Acre em 2022 atingiu R$ 23,6 bilhões, registrando alta de 6% em relação a 2021. No entanto, o nível de investimento estatal caiu drasticamente.
“O Acre ainda depende muito dos investimentos do Estado. Sem infraestrutura e crédito, o crescimento rural é limitado”, destacou o economista.
Segundo o levantamento, Rio Branco responde por 51,3% da riqueza produzida no estado, com PIB estimado em R$ 12,1 bilhões. O setor de serviços permanece como o mais representativo da economia, abrangendo 72% da produção total — impulsionado principalmente pelo serviço público —, enquanto a agropecuária já representa 21,7% do PIB, sendo o segmento que mais cresce.
Estagnação e dependência
A análise histórica mostra que o Acre viveu dois momentos distintos nas últimas décadas. Entre 2002 e 2010, o PIB acreano cresceu 76,5%, uma média de quase 10% ao ano, uma das mais altas do país. Já entre 2010 e 2020, a taxa despencou para 12,9%, com média anual de 1,3%.
Para Sabino, o enfraquecimento recente é reflexo da redução da capacidade de investimento do Estado. “O Acre depende fortemente da injeção de recursos públicos em obras, infraestrutura e programas rurais. Quando o orçamento de investimento cai, toda a economia desacelera”, explicou.
O economista citou que a execução orçamentária dos investimentos — que durante anos se mantinha em torno de 70% do previsto — despencou para aproximadamente 40%. Esse encolhimento, segundo ele, tem impacto direto sobre o campo, uma vez que o setor agropecuário depende de estradas, pontes e crédito rural para escoar a produção e sustentar o ritmo de crescimento.
Renda e desigualdade
O estudo também destaca a concentração econômica em Rio Branco e a disparidade de renda em relação ao restante do país. O PIB per capita da capital é de R$ 31,6 mil anuais, 10% acima da média estadual (R$ 28,5 mil), mas 57% abaixo da média nacional. “Temos uma economia que se movimenta, mas não se distribui. O desafio é transformar o crescimento em bem-estar social e oportunidade no interior do estado”, ressaltou Sabino.
O professor encerrou defendendo uma agenda de reestruturação dos investimentos públicos. Para ele, o Acre precisa priorizar infraestrutura, crédito rural e planejamento orçamentário mais eficiente. “A economia do Acre tem potencial. O que falta é continuidade de investimento, estabilidade e políticas que façam o Estado voltar a ser indutor do desenvolvimento”, concluiu.
