Foto: Portal Correio online
Acordar à 1h da madrugada para, às 3h, já estar com a banca montada. Trabalhar “de domingo a domingo”. Cuidar da produção no sol quente, colher na hora certa e ainda garantir o transporte até o mercado. É assim que José de Souza, agricultor familiar e feirante de Senador Guiomard, descreve a rotina que sustenta sua presença no Mercado Municipal.
Em conversa com a equipe do Portal Correio Online, ele contou que a vida no campo exige muito mais do que força de vontade. É investimento, perda, recomeço e, acima de tudo, resiliência.
Ele carrega no corpo e na fala a marca de quem nasceu no roçado. Planta desde menino, quando ainda ajudava a família a tirar da terra o sustento de cada dia. Cresceu vendo o sol ditar os horários, a chuva decidir os rumos da colheita e a persistência ser a única garantia de futuro. Hoje, duas décadas depois, é a mesma rotina que o mantém de pé no Mercado Municipal de Senador Guiomard, onde, de domingo a domingo, expõe com orgulho os frutos de uma vida inteira dedicada ao cultivo.
Na banca do seu José de Souza, tudo tem história e cuidado. Ele vende cheiro-verde, coentro, pimenta, maxixe, milho, abacate, polpas de acerola, graviola, cupuaçu, goiaba. É variedade que abastece famílias inteiras e dá cor ao Mercado Municipal.

Mas é no maracujá que ele revela o lado mais paciente do trabalho. “Da flor até vingar são 60 dias. Nesse tempo, enquanto muita gente tá descansando, eu estou no sol, cuidando para que dê certo”, conta. A fruta, que exige atenção diária, simboliza a resistência do produtor que não se permite desistir.
Mesmo com tanta diversidade, Souza diz que a valorização nem sempre vem. “O freguês nem sempre valoriza o produto que estamos vendendo, mas tudo aqui é natural, saudável e de qualidade. As vezes buscam o mais barato e esquecem que por trás de cada fruta ou hortaliça, existe muito trabalho, sacrifício e dedicação. Não é só plantar: é cuidar, regar, proteger da chuva e do sol, garantir que chegue fresco até a banca. O que eu trago é fruto de esforço diário e de respeito à terra.”
A falta de valorização de alguns clientes não abala seu José de Souza, que todo dia coloca um sorriso no rosto e vai para o mercado vender os produtos. E ele garante: sabe vender. “Se eu me empenhar, o cliente compra. Eu já conheço cada freguês, sei como atender. Se for bem tratado, ele volta. Se for mal atendido, não pisa mais aqui.”
Na simplicidade da fala, seu José resume a realidade de milhares de agricultores familiares: é a força do trabalho, e não o apoio do poder público, que garante alimento fresco todos os dias na mesa da população”.
A confiança vem da experiência acumulada ao longo dos anos. Ele aprendeu que a feira não é só feita de mercadorias, mas também de relações. “Tem gente que chega e eu já sei o que vai levar. Outros vêm desconfiados, mas eu mostro, explico, deixo provar. Se eu disser que é bom, é porque eu mesmo planto e sei de onde vem.”

Para ele, vender vai além de negociar preços: é criar laços. “Muitos compram porque confiam em mim. Eu vendo fiado, e se não pagarem, a consciência é da pessoa. Mas a maioria paga, porque sabe que pode confiar.”
Sem apoio do poder público
Mas entre a alegria de vender e a confiança dos fregueses, pesa a ausência de apoio. Seu José não esconde a frustração com a invisibilidade política que recai sobre os agricultores familiares. “Se não sair do nosso bolso, nada acontece. Tudo aqui é por conta do produtor. Apoio mesmo, só aparece de quatro em quatro anos, na época de eleição.”
Ele cita o exemplo das estufas e lonas que precisa bancar sozinho. “Um temporal já rasgou minha lona de fora a fora. Quem repõe? Ninguém. É tudo na conta da gente. Se o produtor não ralar, não consegue colocar o produto na banca.”
Mas entre a alegria de vender e a confiança dos fregueses, pesa a ausência de apoio. Seu José não esconde a frustração com a invisibilidade política que recai sobre os agricultores familiares. Ele cita o exemplo das estufas e lonas que precisa bancar sozinho.
