Foto: Dell Pinheiro
Nos corredores da RBTrans, em plena corrida eleitoral de 2024, a política parecia andar de mãos dadas com o medo. Servidores falavam em voz baixa, evitavam comentar qualquer assunto sobre candidatos e, antes de tocar no tema, lançavam olhares rápidos para os lados. O silêncio não era fruto apenas da rotina de trabalho, mas de um ambiente que, segundo o ex-superintendente Benício Dias, foi tomado por intimidação e disputas por influência política.
Na manhã de quinta-feira, 14, Benício esteve na Câmara Municipal de Rio Branco para rebater declarações de Clendes Vilas Boas, atual chefe da autarquia. Vilas Boas havia afirmado, em entrevista coletiva na tarde de quarta-feira, 13, que Benício e a ex-servidora Marília Rodrigues distribuíram material de campanha dentro da RBTrans. A resposta foi direta: “Ele só teria razão se estivesse dizendo a verdade. Não afirmo que ele é mentiroso, apenas que faltou com a verdade, para ser mais educado”.
Benício admite que visitou a sede, mas nega qualquer crime eleitoral. “Visitei pontualmente as pessoas com quem tinha afinidade, como todos os candidatos fizeram em outros órgãos. Essa história de entrar nas salas e entregar santinhos não procede”, reforçou.
Para o ex-gestor, quem ultrapassou o limite foi justamente o atual superintendente. Ele afirma que servidores terceirizados foram perseguidos e ameaçados de demissão caso não apoiassem um candidato específico, cujo nome preferiu não citar.
“As pessoas que repostassem algo meu eram chamadas à sala dele. Ou eram demitidas, ou obrigadas a jurar apoio ao candidato dele. Existe um áudio, que vou encaminhar, de um chefe de gabinete ligando para todos os terceirizados com ameaças explícitas, e segundo eles, com o aval de Clendes Vilas Boas”, disse.
Benício também apresentou aos vereadores o Decreto Municipal nº 1.500, que prevê afastamento preventivo de gestores acusados de assédio moral ou sexual até o fim da apuração. Segundo ele, a regra não tem sido aplicada de forma igualitária. “Um chefe de departamento da Agricultura foi exonerado imediatamente após uma acusação, mas em outros casos a mesma medida não foi tomada”.
Sua exoneração da Secretaria de Agricultura, ocorrida um dia antes, teria sido a pedido. Ainda assim, ele aproveitou para criticar os rumos da gestão. “Após 20 anos combatendo o PT, vejo a prefeitura sendo ocupada por pessoas ligadas ao partido, e não posso concordar com isso”.
Por fim, Benício resumiu seu ponto central: “quem usou a RBTrans como curral eleitoral foram eles. Havia gente que tinha medo até de falar comigo com receio de ser demitida”.