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A dívida bruta do Brasil alcançou em julho o patamar de 77,6% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo dados do Banco Central. O índice representa crescimento de 1,1 ponto percentual em relação ao mês anterior e consolida uma tendência de alta que já se estende desde o início de 2025. Em termos práticos, o nível de endividamento significa que, para cada R$ 100 produzidos pela economia, quase R$ 78 já estão comprometidos com obrigações do setor público.
O movimento reflete a combinação de três fatores: aumento dos juros nominais pagos pelo governo, emissões líquidas de títulos públicos para financiar a máquina estatal e impacto da desvalorização cambial sobre a dívida indexada ao dólar. A expansão do PIB no período ajudou a amortecer parcialmente o resultado, mas não foi suficiente para conter a trajetória de crescimento.
Paralelamente, as contas públicas voltaram a registrar déficit primário no acumulado de 12 meses. O saldo negativo ficou em R$ 27,3 bilhões, revertendo dois meses consecutivos de superávit. Em julho, somente o Governo Central — que reúne Tesouro Nacional, Previdência e Banco Central — encerrou o mês com rombo de R$ 34,8 bilhões. Governos estaduais apresentaram superávit, mas municípios e estatais registraram déficits, contribuindo para o resultado final.
Quando se somam os juros da dívida, o quadro se agrava. O chamado déficit nominal alcançou R$ 968,5 bilhões em 12 meses, o equivalente a 7,8% do PIB. Apenas com o pagamento de juros, a conta chegou a R$ 941,2 bilhões no período. Trata-se de um dos maiores valores da série histórica recente, evidenciando o peso da taxa Selic elevada sobre o orçamento público.
Especialistas apontam que o cenário pressiona diretamente o cumprimento das metas do novo arcabouço fiscal, aprovado em 2023, que prevê limites para o crescimento das despesas e busca estabilizar a relação entre dívida e PIB. O desafio do governo, avaliam economistas, será conciliar aumento de receitas e controle de gastos em um ambiente de baixo crescimento econômico e persistência de despesas obrigatórias.
O comportamento das contas públicas reacende o debate sobre sustentabilidade fiscal. Para analistas, a manutenção de déficits elevados pode comprometer a credibilidade do ajuste proposto pelo Executivo, além de manter em alta a percepção de risco no mercado financeiro. Na prática, isso significa mais dificuldade para atrair investimentos, pressões sobre o câmbio e juros mais caros para famílias e empresas.