Desmatamento interrompe ciclo de queda e avança novamente na Amazônia

Foto: Daniel Beltrá/Greenpeace

Depois de quatro quedas consecutivas, o desmatamento na Amazônia voltou a crescer. De agosto de 2024 a julho de 2025, os alertas emitidos pelo sistema de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontaram mais de quatro mil quilômetros quadrados de floresta derrubada no bioma — uma área quase três vezes o tamanho da cidade de São Paulo. O número representa um aumento de 4% em relação ao período anterior, mas ainda é o segundo menor índice da série histórica iniciada em 2016.

Se no Cerrado houve alívio, com queda de 21% nos alertas e redução de 7 mil para 5,5 mil km² de vegetação nativa perdida, na Amazônia a alta reacende o alerta. Segundo o Observatório do Clima, que reúne 133 organizações ambientalistas, quem lucra com a derrubada da floresta tem mudado de perfil e agora utiliza o fogo como aliado estratégico.

“Você precisa agora atuar contra os incêndios florestais. Isso o governo já percebeu, já está correndo atrás disso. É muito mais difícil pegar um incendiário do que pegar um desmatador. Então, isso vai exigir um novo salto de inteligência dos órgãos ambientais”, afirmou Cláudio Ângelo, coordenador de Política Internacional do Observatório do Clima.

Acre: aumento acima da média

No Acre, os números destoam da média nacional. Dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD/Imazon) revelam que, em 2024, o estado registrou 464 km² de floresta derrubada, alta de 39% em relação a 2023. A degradação florestal — que inclui queimadas e exploração seletiva — disparou 318%, atingindo 184 km².

Relatório do MapBiomas reforça a tendência, apontando que o Acre foi o único estado da Amazônia Legal a registrar aumento no desmatamento em 2024 (+30% na comparação anual). Por outro lado, dados oficiais do Inpe/Prodes indicam redução de 25% entre 2023 e 2024 (de 601 km² para 448 km²). A diferença se deve às metodologias: enquanto o Prodes mede áreas maiores e consolidadas, o MapBiomas detecta também desmatamentos fragmentados.

Peso na Amazônia Legal

Mesmo com território reduzido, o Acre respondeu por 5,57% de todo o desmatamento da Amazônia Legal em 2024, superando estados como Roraima e Maranhão. Em março de 2025, o estado concentrou 1% do total derrubado no bioma, com destaque para municípios como Feijó, Sena Madureira e Tarauacá.

O aumento da derrubada coincide com um período de seca severa que atinge o Acre desde 2023, reduzindo níveis dos rios, ressecando a vegetação e criando um ambiente altamente inflamável. O cenário favorece a expansão das queimadas, que tendem a intensificar os impactos do desmatamento e dificultar a regeneração natural da floresta.

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