Série especial – “O Grito do Agro”
Encerramos hoje a série especial “O Grito do Agro”, que acompanhou os desdobramentos da crise provocada pelos embargos ambientais no Acre. Neste quarto capítulo, o foco recai sobre uma das maiores feridas abertas por essa realidade: a desigualdade no tratamento dado às regiões brasileiras em relação à produção rural.
Durante a audiência pública realizada na Assembleia Legislativa, parlamentares e lideranças do setor denunciaram que, enquanto estados do Sul e Sudeste têm liberdade para explorar até 80% de suas terras, o Acre e outros estados da Amazônia são travados por regras mais rígidas, que na prática asfixiam a produção e empurram a região para o colapso.
“Santa Catarina pode. Mato Grosso pode. E o Acre, que preserva mais de 85% do território, não pode fazer nada? Aqui tudo é proibição. Tudo é embargo. Tudo é medo”, disse o deputado estadual Tanísio Sá (MDB), em tom indignado.
O parlamentar frisa ainda que o atual modelo ambiental brasileiro inverte a lógica da Justiça. Em vez de premiar quem conserva a floresta, o país pune com travas, embargos e insegurança jurídica justamente quem manteve a vegetação em pé. “Criaram um sistema que virou uma armadilha para a Amazônia. Enquanto o resto do Brasil avança, aqui a gente é tratado como criminoso só porque quer plantar”, afirmou outro parlamentar durante o debate.
As consequências, segundo os deputados, vão além da economia. Elas atingem a dignidade de quem vive da terra, geram evasão rural, empobrecimento e um ciclo de dependência estatal que sufoca o desenvolvimento autônomo da região.
O Norte está sendo quebrado
Em tom grave, Tanísio Sá alertou: “Vai chegar uma hora que os estados do Norte vão quebrar. Não tem produção, não tem emprego, não tem renda. E quem perde é o Brasil inteiro, porque a Amazônia não é problema, é solução.”
A crítica é direcionada também ao distanciamento de Brasília. Deputados pedem que o governo federal e o Congresso parem de legislar sobre a floresta sem ouvir quem mora nela. “Não adianta decidir em ar-condicionado o que vai ser feito com a vida de quem vive no barro. É hora de escutar o Norte.”
