Das tranças à resistência: Grasy Sabrina transforma dor em arte e conquista a Expoacre com beleza, força e ancestralidade

Com apenas 22 anos e uma bagagem de vida que desafia o tempo, a jovem Grasy Sabrina é a prova viva de que os fios da ancestralidade podem trançar também os caminhos da superação, do empreendedorismo e do orgulho negro. Natural de Plácido de Castro, no interior do Acre, ela comanda o Ateliê Afro Black Brides, uma iniciativa que nasceu da crise e floresceu como arte, identidade e sustento.

“Comecei a fazer tranças em mim mesma aos 12 anos, durante minha transição capilar. Era só por estética. Mas quando enfrentei uma crise financeira e minha mãe adoeceu, as tranças passaram de vaidade a sobrevivência. E dali em diante, viraram profissão e missão”, conta, com um sorriso firme, mas olhos que carregam história.

Hoje, três anos após abrir oficialmente sua empresa, Graça participa pela primeira vez da Expoacre como empreendedora independente, após ter feito parte do projeto Salão Parceiro, em parceria com o Sebrae, oferecendo tranças gratuitas em edições anteriores.

“Na época, trabalhava como faxineira na Bolívia. Foi lá que percebi que podia ir além, que eu tinha nas mãos algo que era arte, mas também renda, futuro e legado. Foi quando decidi empreender de verdade. Hoje estou aqui com meu próprio estande. É muita emoção”, revela.

Do preconceito à vitrine internacional

Filha da resistência, Graça também carrega na memória as marcas do preconceito. Sofreu bullying na adolescência por causa do cabelo, durante a transição capilar. Mas foi justamente essa diferença que virou força e referência. Suas tranças — que variam das mais simples, feitas em 10 minutos, às mais complexas, com até 13 horas de duração — já cruzaram fronteiras.

Em 2024, levou o Ateliê Afro Black Brides para a Bolívia e Peru, onde ficou por cinco meses. “Lá também é novidade. As pessoas se espantam. Dizem que nunca viram isso como profissão. E eu digo: pois é, agora estão vendo. A gente tá chegando.”

Entre os estilos oferecidos, estão as famosas box braids, boho braids e tranças com cachos, além de dreadlocks e outros formatos que celebram a cultura afro. Para além dos cabelos, o ateliê também expandiu para artesanato, com produção de pulseiras e acessórios em Plácido de Castro, vendidos em feiras como a Expoacre.

“Quando o plano A (as tranças) está mais difícil, vem o plano B (o artesanato). A gente nunca para. Produzimos com muito carinho. E já temos clientela fiel. É lindo demais ver o reconhecimento chegando”, afirma.

Além das habilidades como trancista, Graça também se arrisca em barbearia, unhas acrílicas e arte manual, demonstrando um talento múltiplo que desafia as limitações geográficas e sociais. Ainda sonha em abrir um salão próprio em Puerto Maldonado, onde quer levar o conceito de beleza negra, empoderamento e estética ancestral para ainda mais mulheres.

A parceria com o Sebrae, foi o que impulsionou a jovem a participar do projeto Salão Parceiro, promovendo oficinas gratuitas e atendimento durante a Expoacre 2024 e em Cruzeiro do Sul.

Mesmo que a parceria não tenha se repetido em 2025, ela segue firme: “A pirâmide nunca começa cheia. A gente tem que construir a base pra chegar no topo. E eu sigo construindo.”

“Surgiu eu”: uma frase, uma bandeira

Em meio à curiosidade dos visitantes e olhares admirados de quem passa pelo estande, Graça diz que muitos ainda se surpreendem ao descobrir que tranças são profissão. Mas com firmeza, ela resume. “Eles nunca tinham visto. Pois agora, surgiu eu.”

É com essa ousadia doce que ela marca sua passagem pela 50ª edição da Expoacre — mais do que com um produto, com uma causa. Com suas mãos, Graça entrelaça fios de história, orgulho e luta. Cada trança, uma narrativa. Cada cliente, um manifesto.

Ela é a própria Expoacre: resistência, produção, beleza e raiz.

Compartilhar