COP30 em Belém: hospedagem cara gera crise e ameaça participação de países

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Faltando menos de três meses para a COP30, que acontece em Belém entre 10 e 21 de novembro, a cidade-sede enfrenta um dos maiores desafios de organização: a hospedagem. Com diárias que em muitos casos ultrapassam dez vezes a média da alta temporada, a capital paraense se tornou palco de uma crise internacional que já preocupa delegações estrangeiras e pode comprometer a participação de países em desenvolvimento.

Anúncios em plataformas de hospedagem mostram valores que chegam a R$ 10 mil ou até R$ 15 mil por diária, com pacotes que ultrapassam facilmente a casa dos R$ 200 mil para o período da conferência. Em imóveis de luxo, os preços saltam para cifras ainda mais inacessíveis, criando um abismo entre o que se esperava como evento inclusivo e a realidade de um encontro marcado pela exclusão.

A Defensoria Pública do Pará, em conjunto com o Ministério Público e órgãos de defesa do consumidor, já notificou plataformas como Booking e Airbnb para que retirem anúncios com preços considerados abusivos. A regra imposta é clara: quem cobrar mais de três vezes acima da média terá 48 horas para corrigir ou será excluído da plataforma. Ainda assim, os valores permanecem acima do padrão aceitável, alimentando um clima de insegurança e revolta.

O governo estadual anunciou medidas emergenciais, como a reserva de mais de dois mil quartos a preços controlados, direcionados principalmente a delegações de países mais pobres, com tarifas variando de 100 a 200 dólares. Para os países com maior poder econômico, os valores podem chegar a 600 dólares por noite. Além disso, Belém vai contar com alojamentos em escolas públicas reformadas, base militar adaptada e até dois navios de cruzeiro contratados para servir de hospedagem alternativa, somando cerca de seis mil novos leitos.

Apesar do esforço, a sensação de improviso predomina. Especialistas apontam que faltou planejamento prévio do governo federal para evitar a escalada dos preços e garantir condições igualitárias de participação. A comparação com outras edições da COP reforça essa percepção: em anos anteriores, os países-sede criaram plataformas próprias para intermediar hospedagens e direcionar tarifas acessíveis a delegações que não tinham condições de pagar caro.

As consequências já começam a aparecer. Delegações de países africanos e de outras nações em desenvolvimento estudam reduzir suas equipes ou até mesmo cancelar a participação. Há relatos de insatisfação também entre representantes da Europa Oriental, que classificam a situação como um “vexame” para o Brasil. A própria ONU realizou reuniões emergenciais diante do risco de uma crise diplomática em pleno evento climático mais importante do planeta.

Enquanto isso, a cidade segue em obras aceleradas, tentando adaptar sua infraestrutura para receber mais de 50 mil visitantes esperados. O discurso oficial fala em legado e oportunidade histórica para Belém, mas a realidade expõe um cenário preocupante: uma COP marcada não apenas pelo debate sobre mudanças climáticas, mas também pela desigualdade que começa dentro da própria organização.

A COP30 nasce sob o desafio de discutir soluções para o aquecimento global, mas, em Belém, o primeiro obstáculo é outro: garantir que todos tenham direito de estar presentes à mesa de negociação.

Compartilhar