Conselheira denuncia más condições da Casa de Saúde Indígena em Rio Branco

Foto: Arquivo pessoal

Em tratamento por conta de uma fratura no pé, a conselheira indígena Darcilene Kaxinawá está inconformada com más condições e serviço prestado na Casa de Saúde Indígena (Casai), em Rio Branco. Ela diz que a água servida não é potável, não há ar-condicionado, falta lençol e até produto de limpeza para higienizar os alojamentos.

“A gente bebe uma água que não é potável, só tem água mineral para os funcionários, menos para os pacientes. Bebemos água de um tanque e é muito quente. A água é usada para os pacientes tomarem banho, o pessoal fazer comida. A comida não é de qualidade, e a gente sabe que a saúde indígena é diferenciada porque há verba para isso. A gente só quer que o povo saiba o que está acontecendo com nós, os parentes veem para cá em busca de apoio e de melhorias. A empresa que faz a comida não oferta alimento de qualidade”, lamenta.

Em nota, o Ministério da Saúde disse que ‘já iniciou processo judicial para que as empresas contratadas para prestação dos serviços cumpram o estabelecido em contrato. A Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde estuda medidas emergenciais para melhorar a qualidade da alimentação e rouparia ofertada aos indígenas da Casai’.

Sobre a água, o governo federal afirmou que abastecimento por galões de água mineral é ineficaz porque a demanda é grande na unidade e a água no bebedouro ficava sempre quente. Por conta disso, ‘foram providenciados dois bebedouros industriais com filtro de alta capacidade, nos quais é atestada, periodicamente, a qualidade da água pelo Serviço de Edificação e Saneamento Indígena (Sesani)’.

Darcilene está na Casai há quase 20 dias. No dia 7 de setembro, ela quebrou o pé dentro de um ônibus a caminho de Rio Branco. Ela é da Terra Indígena Água Preta/Inari, Aldeia Kassiriqui, zona rural de Pauini, cidade do Amazonas, ia para Brasília participar da 3ª Marcha das Mulheres Indígenas, que ocorreu no último dia 13 na capital do país.

Após machucar o pé, Darcilene voltou para Boca do Acre e foi encaminhada pelo médico para o Pronto-Socorro de Rio Branco. De lá, ela foi transferida para seguir com o tratamento e ficar instalada na Casaí.

“Aqui também não tem material de limpeza, os funcionários limpam só com água. Não estão recebendo as coisas, não tem lençol para os pacientes, as camas são velhinhas, o paciente deita e quebra. Não tem ar-condicionado dentro do alojamento e tem muita gente. Tem gente que vai para o piso deitar porque não consegue dormir na cama, que tem o colchão de lona e é muito quente. Para ter esses colchões de lona precisa ter ar-condicionado para suportar a quentura”, criticou.

A indígena gravou algumas imagens dentro dos alojamentos mostrando o reservatório de onde os pacientes tomam água e as marmitas que são servidas. “A carne fica toda na marmita porque não tem condições nem de comer. A sopa nem se fala, o frango cru, cru e branco, parece que não tem colorau. Parente tem que fazer seu próprio peixinho e se tiver dinheiro para comprar. Isso aqui é na Casai de Rio Branco. É assim mesmo. Na porta da cozinha tem um cardápio lindo e maravilhoso, que não é cumprindo porque isso aqui nunca vi”, descreve no vídeo.

A conselheira diz também que outros indígenas já tinham passando pela Casai e chegaram na aldeia reclamando das condições encontradas no local. “Arroz cru, calor imenso, situação desumana. Estou com minha filha, que bebeu essa água e pegou infecção intestinal. O parente [indígena] vem com uma coisa e sai com outra coisa. Toma uma água que não é adequada, esse tanque parece que nunca foi lavado”, concluiu.

Nota da Sesai na íntegra:

O Ministério da Saúde já iniciou processo judicial para que as empresas contratadas para prestação dos serviços cumpram o estabelecido em contrato. A Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde estuda medidas emergenciais para melhorar a qualidade da alimentação e rouparia ofertada aos indígenas da Casai.

Em relação à água, foi verificado que o abastecimento por galões de água mineral era ineficaz para dar vazão aos pacientes e para a oferta de água gelada. Para isso, foram providenciados dois bebedouros industriais com filtro de alta capacidade, nos quais é atestada, periodicamente, a qualidade da água pelo Serviço de Edificação e Saneamento Indígena (SESANI).

A atual reforma realizada na Casai vai qualificar o atendimento ofertado, assim como o bem-estar dos pacientes, como a ventilação nos quartos. A previsão para a conclusão da obra é para novembro de 2023. (G1)

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