Gerar, parir, criar, materna. Ser mãe pode ser lindo, solitário, intenso, difícil… E é para sempre! É viver entre o tal instinto materno, o amor incondicional, a responsabilidade vivida sozinha e compartilhada também.
Entre as noites mal dormidas da maternidade real, existe também a carga de cuidar e a carreira profissional, por exemplo. Entre o coração de mãe, onde “sempre cabe mais um”, e o peso de querer (ou precisar) dar conta de tudo sozinha.
Por tudo isso, entre vontades, desejos, anseios, inseguranças, angústias, realizações, alegrias e um amor infinito, estão as mães. Mães de um, de dois, de três. Mães solo e mães que podem contar com alguém. Mães modernas, mães corujas, mães jovens, mães bravas, mães liberais ou tudo isso em uma só!
Dizem que “mãe é tudo igual, só muda o endereço”. Mas entre tantas semelhanças e diferenças, cada uma sabe as dores e as delícias de colocar e educar uma criança neste mundo, não é?
E como já dizia Mário Quintana: “Mãe! São três letras apenas as desse nome bendito, três letrinhas, nada mais… E nelas cabe o Infinito”.
E mais uma vez chegamos nessa data tão linda, o Dia das Mães, e nessa ocasião de tanta representatividade o site Correio Online conta a história da dona Raimunda Nonato de Carvalho, de 68 anos, uma acreana guerreira, batalhadora, resiliente e que não mediu esforços para dar uma vida digna aos seus três filhos.
Em conversa com nossa equipe, dona Raimunda relata que começou a trabalhar muito cedo e foi no comércio que sua vida ganhou estabilidade, mas a caminhada não foi fácil. “criei meus filhos sozinha, trabalhei muito para que pudessem ter oportunidade de estudar e ter um bom futuro”, disse com os olhos cheios de lágrimas.
A emoção vem da lembranças dos dias difíceis, mas também da alegria de saber que o objetivo dela foi alcançado, a criação dos filhos. “O sonho de toda mãe é ver seus filhos bem e sou grata por ter criado os meus ensinando a importância do trabalho e da honestidade. Foi uma caminhada difícil, pois acordava muito cedo para ir até o Centro, na minha banca trabalhar. Meus filhos iam junto comigo e já saía de casa também com nossa alimentação, pois todos passávamos o dia fora de casa”, frisa.
E acrescenta: “Olho para meus filhos hoje e me orgulho de cada um, me orgulho das pessoas que se tornaram, de suas conquistas, por isso me emociono ao falar sobre eles. Foi uma jornada difícil em muitos momentos, mas também gratificantes. Muitos aprendizados e não me arrepende de tudo que lutei por eles, que só me deram alegrias até hoje”.
E o amor de mãe não parou nos filhos. Também emocionada, dona Raimunda compartilha o cuidado que tem com a neta Giovana, que com muito orgulho apresentou a reportagem do Correio Online como futura médica.
“Nunca me decepcionei com nenhum dos meus filhos e hoje crio a Giovana, Dra. Giovana, que também é um amor de filha, uma pessoa que me dá muito orgulho e que também esteve comigo em muitos momentos dessa minha caminhada vendendo minhas mercadorias. Sou feliz por ver que ela está realizando o sonho de ser médica e que posso contribuir com isso”, disse dona Raimunda.
DONA DO PRÓPRIO NEGÓCIO
Dona Raimunda conta que antes de empreender já havia trabalhado como lavadeira e secretária do lar. “Sempre trabalhei muito e desde muito nova. Naquela época não tinha muito diversificação, então, trabalhava no que aparecia. Já lavei roupa para fora, já trabalhei como secretária do lar, mas sempre também busquei melhores oportunidades”.
Ainda jovem começou a trabalhar com venda de roupas em uma loja no Centro, local que a motivou a buscar ter o próprio negócio. “Trabalhei muito tempo em uma loja e foi lá que tive vontade de ter meu próprio comércio. Meu chefe na época, inclusive, me ajudou com algumas mercadorias e puder dar início a uma nova caminhada, com minha banca de camelô”, disse ao destacar ainda que foram mais de 40 anos marcando presença na antiga Praça da Bandeira.
“Foram muitos anos ali na antiga Praça da Bandeira. Manhã, tarde e noite, muito trabalho e empenho. Lembro com carinho daquela época e de tudo que vivi ali. É tanta história para contar que a gente acaba até se perdendo por onde iniciar. Foram muitas dificuldades e superações, tristeza e alegrias, o início foi difícil, pois tinha que correr atrás de conquistar nossa clientela. A estratégia da época era no boca a boca, quem passava na frente da banca eu já chamava logo para ver as mercadorias”, disse dona Raimunda aos risos.
A estratégia deu certo e os clientes começaram a chegar. “Ia a São Paulo comprar mercadorias e as vendas, durante anos, foram muito boas. E as crianças sempre comigo, tinha um espaço que, inclusive, armava uma rede para minha filha descansar, ela é a mais nova dos três. De lá já iam para a escola e ao final do dia voltávamos todos juntos para casa. Foram muitos anos nesse rotina, mas em nenhum momento foi um peso. A rotina as vezes era cansativa, mas era muito bom ver que meus filhos estavam tendo a oportunidades de terem uma vida um pouco melhor”, frisou.
Dona Raimunda relata também que nem sempre era fácil a rotina de acordar cedo e sair com os filhos parar abrir a banca. “Na época nossa condução era ônibus e andar com três meninos era um pouco difícil as vezes. Era uma rotina intensa todo dia, mas sou grata porque puder criar meus filhos em uma época em que não tinha tanta violência, então, nossa preocupação era apenas a rotina do trabalho”.
Da antiga Praça da Revolução, dona Raimunda mudou-se para o Calçadão, onde também passou muitos anos. “O trabalho sempre foi gratificante e o resultado também. As vendas estavam boas e o esforço era sempre recompensado. Meus filhos já estavam maiores e me ajudavam sempre que podiam, porque ainda estudavam”, falou.
AS VENDAS NO INTERIOR DO ACRE
Infelizmente, o tempo de crise chegou e as vendas já não eram como no início. Sem perder tempo, dona Raimunda adotou uma nova estratégia e começou a circular nos municípios com suas mercadorias.
“Eu fiquei uns tempos só vendendo nas cidades do interior. As vendas caíram muito, houve um período longo de crise e não podíamos deixar essa crise tomar de conta da nossa vida não, então, fomos a luta novamente. Foi aí que decidi deixar a banca aqui na Capital e levar minhas mercadorias para os municípios do Acre e deu super certo”, falou. E acrescentou: “foram anos muito bons, fazia muitas vendas nas cidades e fiz boas amizades também. Assim que chegava nas cidades eu conseguia atrair as pessoas e vendia tranquilamente as mercadorias”.
Dona Raimunda relembra que por diversas vezes recebeu conselhos para desistir do comércio e buscar uma nova área de trabalho. Mas a confiança de que a situação melhoraria a fez continuar empreendendo. “Algumas pessoas me diziam para desistir do comércio, mas eu continuei. Fui vender no interior e passei por Xapuri, Capixaba, Sena Madureira, Manoel Urbano e outras cidades”.
Apesar do sucesso nas vendas, dona Raimunda relata que o deslocamento de ida e vinda nem sempre era fácil, e que por vezes perdeu mercadorias na estrada.
“Fiz muitas vendas, mas também já tive muitos prejuízos. Já perdi muitas mercadorias na estrada e isso era sempre uma angustia porque ficava pensando como ia repor o que havia perdido, afinal, não era só o produto, mas valor investido e também o lucro. Mesmo com essas situações, conseguimos manter nosso vida em dia”.
E apesar de já está aposentada, dona Francisca garante que ainda vai voltar a trabalhar. “Sinto muito falta da minha rotina de trabalho e qualquer dia desses eu volto. Meus filhos e minha neta não querem, mas eu vou tentar sim. Estou parada porque preciso fazer uma cirurgia, mas depois disso eu volto”, disse ela sorrindo.
RETORNO AO CALÇADÃO E A APOSENTADORIA
Com o fim das viagens ao interior do Estado, dona Raimundo retorna ao Calçadão e deu início novamente as vendas por meio de sua banca. “Depois que decidi parar com as vendas nos municípios, decidi voltar com minha banca no Calçadão. A saída das mercadorias eram boas e lucro era satisfatório. Fique muito tempo ali também”, pontuou dona Raimunda.
Sua aposentadoria veio a pouco menos de dois, ocasião em que estava instalada no Shopping Aquiry, próximo ao Terminal Urbano de Rio Branco, porém, devido problemas de saúde, dona Raimunda precisou abandonar o comércio.
“Tinha apenas 18 anos quando fui trabalhar na antiga Praça da Bandeira, e depois fui para o Calçadão, realizei vendas nas cidades do interior e por fim me instalei no Shopping Aquiry. Minha aposentadoria chegou tem pouco tempo, mas como já falei ainda vou voltar a trabalhar, vou voltar com minhas vendas, só fazer minha cirurgia”, riu dona Raimunda.
A MATERNIDADE
Dona Raimunda encerrou a entrevista afirmando que pelos filhos trilharia novamente esse caminho. “Foram anos de trabalho intenso e muita dedicação. Minha motivação sempre foi dar o melhor aos meus filhos e ver onde eles chegaram hoje me faz ter a certeza de que se fosse necessário viver tudo isso novamente, eu viveria. Elas são meus acertos, minha alegria, meu orgulho e faria tudo novamente por eles. Sou grata a Deus por tudo, por estar viva, por ter meus filhos perto de mim, por ter criado boas pessoas, de bom caráter. Me sinto agraciada neste Dia das Mães”, finalizou.