Condenados à reserva: quando a Amazônia impede a própria sobrevivência

Foto Correio online

As reservas extrativistas foram criadas como modelo de proteção ambiental com justiça social. Mas, no Acre, o que deveria garantir sustentabilidade e dignidade virou um labirinto legal onde sobreviver é quase uma infração.

Durante sua passagem pela Expoacre 2025, o ex-ministro Aldo Rebelo criticou o que chama de “desfuncionalidade do atual modelo de conservação” e defendeu mudanças concretas na legislação para garantir o direito à subsistência: “O habitante da reserva não vai pra pecuária porque quer deixar de ser extrativista. Ele vai porque não consegue mais sobreviver apenas com o extrativismo.”

Segundo ele, a competitividade de quem vive da floresta é engolida pelo mercado: como competir com uma fazenda de seringueira no Sudeste, com alta produtividade, quando no Acre o preço pago por um quilo de borracha mal cobre os custos da coleta?

Criminalizar a sobrevivência

Nas reservas, muitos moradores recorrem à pequena criação de gado como forma de garantir renda mínima e liquidez. Mas enfrentam embargos, fiscalizações severas e ausência total de assistência técnica — mesmo sem provocar desmatamento. “Ou o Estado permite que eles tenham outra atividade dentro da reserva, ou estará os condenando à fome e ao abandono”, disse Rebelo.

Juventude sem horizonte

Outro ponto sensível levantado é o impacto da estagnação econômica nas novas gerações. Sem perspectivas de trabalho dentro das reservas e das comunidades, jovens migram para as cidades — onde enfrentam desemprego, exclusão ou são cooptados por redes de criminalidade.
“O Acre forma estudantes, técnicos, universitários. Mas, sem economia que os absorva, a juventude é obrigada a sair ou a viver da informalidade. Isso é insustentável”, pontuou.

Para Aldo Rebelo, a única agenda capaz de mudar esse cenário é aquela que enfrente os dogmas ambientais que não produzem justiça nem preservação. “A agenda vitoriosa em 2026 será a que garantir o direito ao desenvolvimento — inclusive nas reservas. Preservar sim, mas com dignidade. O que temos hoje é exclusão disfarçada de proteção.”

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