O Acre está à beira de um colapso climático. Um alerta emitido no último sábado, 10, por cientistas e instituições ambientais do Brasil, Peru e Bolívia projeta um cenário de risco extremo para a região trinacional conhecida como MAP — sigla para Madre de Dios (Peru), Acre (Brasil) e Pando (Bolívia). Segundo o relatório, o território enfrenta o período mais crítico de alterações climáticas das últimas três décadas — e os efeitos já são visíveis, mensuráveis e devastadores.
Entre outubro de 2024 e março de 2025, o Acre enfrentou um dos ciclos de seca mais agressivos de sua história recente. Municípios inteiros passaram até quatro meses sob níveis classificados como severos, extremos ou excepcionais, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). A estiagem foi apenas o sintoma mais visível de um problema mais profundo: o colapso dos ciclos naturais de um ecossistema pressionado por décadas de desmatamento, avanço da fronteira agrícola e ausência de políticas estruturantes.
O relatório da Iniciativa MAP, que reúne especialistas da Universidade Federal do Acre, Embrapa Acre, Universidad Amazónica de Pando, Cemaden e SERNANP (Peru), aponta que a temperatura média na região aumentou 1,8°C entre 1990 e 2024. A elevação, embora pareça modesta no número, representa um impacto avassalador sobre a floresta, os rios e as comunidades humanas que dependem deles.
Ar que mata em silêncio
Os efeitos não se limitam à estiagem. Em setembro de 2024, Rio Branco registrou níveis de material particulado fino (PM2.5) seis vezes acima do limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde — uma nuvem invisível que adoece os pulmões e encurta a vida. O relatório aponta que a exposição prolongada à fumaça pode reduzir em vários anos a expectativa de vida da população da região MAP, especialmente entre os mais pobres, os mais jovens e os mais vulneráveis.
Mesmo diante desse cenário, há resistência. O relatório destaca o papel essencial das áreas protegidas como último bastião contra o avanço da devastação. Unidades como a Reserva Extrativista Chico Mendes, o Parque Estadual Chandless e as Terras Indígenas do Alto Purus e Mamoadate formam um corredor vivo de biodiversidade trinacional. São elas que seguram as chuvas, alimentam os rios e mantêm viva a conexão entre as populações tradicionais e seus territórios.
“Estamos vendo o futuro chegar — e ele não é mais uma projeção. É uma realidade dolorosa, desigual e urgente”, afirmam os autores do alerta.