Enquanto o noticiário nacional fala em estabilidade inflacionária, a realidade do consumidor acreano conta outra história — contada no caixa do mercado, no fiado da bodega, no peso da sacola que vai ficando mais leve a cada mês. Em abril, o custo da cesta básica em Rio Branco teve nova alta, ainda que discreta: 0,41%, alcançando o valor médio de R$ 666,25, segundo levantamento regional.
A variação parece pequena, mas esconde movimentos mais profundos no orçamento das famílias. O café em pó, item cultural e afetivo nas casas do Norte, foi o que mais subiu: 15,12% de aumento em apenas um mês. O pão francês, símbolo do desjejum urbano, disparou 54,13%, tornando-se quase um artigo de luxo na mesa do trabalhador.
Do outro lado da balança, alguns produtos caíram de preço. O arroz teve retração de 14,50%, e a margarina recuou 11,49%, amenizando — ainda que minimamente — a alta de outros itens.
Mas não há muito o que comemorar quando a carne bovina, insumo central da dieta acreana, segue com preço médio superior a R$ 200 por mês. Em uma família que ganha um salário mínimo, esse valor representa quase 20% da renda líquida. O acesso à proteína animal, que já foi sinônimo de fartura e dignidade, hoje marca a fronteira invisível entre a segurança alimentar e a privação.
No acumulado de 2025 (janeiro a abril), a cesta básica em Rio Branco registra variação de apenas 0,08%. Na frieza estatística, isso poderia ser interpretado como estabilidade. Mas o consumidor sabe que o custo não está apenas nos centavos — está na substituição silenciosa do que se come: menos carne, menos frutas, menos leite, mais fé para que o mês dure até o fim.