Cafés especiais do Brasil ganham espaço na Europa com foco em sustentabilidade e diversidade

Foto: Christian Beutler

Foto: Christian Beutler

O Brasil, maior produtor e exportador de café do mundo, está consolidando uma nova frente estratégica no mercado internacional: a dos cafés especiais. Tradicionalmente associado ao café commodity, o país vem investindo em diversidade, rastreabilidade e sustentabilidade para conquistar consumidores exigentes da Europa, dos Estados Unidos e da Ásia. Segundo a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), o setor cresce em média 15% ao ano e já representa quase 10% do consumo nacional, alcançando a marca de mais de nove milhões de sacas produzidas em 2024.

O que diferencia um café especial vai muito além da xícara. Para receber essa classificação, os grãos precisam atingir nota mínima de 80 pontos na escala de avaliação da Specialty Coffee Association (SCA), o que exige cuidados rigorosos desde a lavoura até o processo de torra. Colheita manual, microlotes, fermentações diferenciadas e rastreabilidade são parte da rotina dos produtores que buscam agregar valor ao produto e se destacar em um mercado cada vez mais competitivo.

Esse movimento também revela uma transformação social e econômica: cerca de 80% da produção brasileira de cafés especiais está nas mãos de pequenos e médios produtores, que encontram nesse nicho uma forma de melhorar a renda e acessar mercados premium. Regiões como o Sul de Minas, Cerrado Mineiro, Mogiana Paulista, Espírito Santo e Chapada Diamantina são hoje referência mundial, reconhecidas pela consistência de qualidade e pela criação de perfis sensoriais que encantam consumidores. Entre eles, destacam-se cafés de notas intensas, com aromas de chocolate e castanhas; doces, lembrando melado e frutas cristalizadas; frutados, de acidez vibrante; e florais, com perfumes delicados como jasmim e lavanda.

No mercado externo, o impacto é significativo. Em 2024, os cafés diferenciados responderam por cerca de 19,5% do volume exportado e por 22,4% da receita cambial da cafeicultura brasileira. Estados Unidos, Alemanha, Bélgica, Países Baixos e Japão estão entre os principais destinos, e a demanda por cafés premium segue em expansão. Projeções internacionais apontam que o mercado global de cafés especiais deve movimentar mais de US$ 150 bilhões até 2030, crescendo em ritmo anual superior a 12%.

Para o diretor executivo da BSCA, Vinícius Estrela, a estratégia brasileira precisa combinar promoção internacional com práticas de sustentabilidade e inovação. “O café especial brasileiro tem atributos únicos e pode ser o cartão de visitas do país em feiras e mercados de ponta. A chave está em mostrar que qualidade e responsabilidade socioambiental caminham juntas”, destacou em entrevista ao Canal Rural.

Com essa expansão, o Brasil busca não apenas fortalecer sua imagem no exterior, mas também valorizar o trabalho de produtores que encontraram no café especial uma forma de manter a tradição e, ao mesmo tempo, reinventar o futuro da cafeicultura nacional.

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