Em um movimento que surpreendeu analistas e aliviou o setor avícola brasileiro, o governo da Bolívia suspendeu todas as restrições impostas às exportações de carne de frango do Brasil. A decisão foi confirmada pelo Ministério da Agricultura e ocorre num momento delicado para o país, que enfrenta sanções comerciais de dezenas de nações após a confirmação do primeiro foco de gripe aviária em granja comercial, registrado no dia 15 de maio em Montenegro, no Rio Grande do Sul.
Enquanto 48 países ainda mantêm bloqueios totais à carne de aves brasileira, e outros 16 impõem restrições direcionadas ao território gaúcho, a Bolívia segue na contramão e reabre completamente seu mercado. A medida é considerada estratégica e demonstra abertura para acordos sanitários bilaterais mais equilibrados, mesmo diante de pressões globais.
A gripe aviária, altamente transmissível entre aves e com potencial de causar perdas econômicas expressivas, levou o Brasil — maior exportador global de carne de frango — a adotar rígidas medidas sanitárias. Em Montenegro, foco inicial do vírus, foi decretado um vazio sanitário de 28 dias, durante o qual nenhuma granja pode registrar novos casos. Segundo o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, a resposta brasileira tem sido eficaz e reforça a confiabilidade do sistema de controle sanitário nacional.
“O foco foi contido com rapidez. Estamos monitorando permanentemente. A Bolívia reconheceu esse esforço, o que mostra que é possível manter relações comerciais respeitando a ciência e os protocolos sanitários”, declarou Fávaro em entrevista a imprensa.
Exportações em queda e reação diplomática
Apesar dos esforços, o impacto econômico é claro: em maio de 2025, o Brasil exportou 14,4% a menos em volume de carne de frango em relação ao mesmo mês do ano passado. A queda é reflexo direto das sanções e do receio de novos focos da doença.
Entre os países que mais recentemente anunciaram novas restrições está o Catar, que bloqueou apenas produtos oriundos de Montenegro. Esse tipo de embargo localizado tem sido mais comum entre países que reconhecem a regionalização sanitária adotada pelo Brasil — prática que isola áreas afetadas sem comprometer toda a produção nacional.
Para a indústria brasileira, especialmente para os polos do Sul e Centro-Oeste, qualquer gesto de reabertura comercial é visto como uma válvula de escape. A decisão da Bolívia ganha ainda mais relevância no contexto amazônico, onde estados como Acre e Rondônia vêm tentando se posicionar como novos polos de produção avícola para exportação.
“Temos uma janela de oportunidade se mantivermos o status sanitário e mostrarmos competência na rastreabilidade dos produtos. Estados da Amazônia Legal podem se beneficiar dessa reestruturação do comércio internacional de aves”, aponta a economista rural Juliane Andrade, especialista em mercados agroexportadores.
Cenário em evolução
O Brasil ainda aguarda o fim do vazio sanitário — previsto para meados de junho — para tentar negociar a suspensão dos embargos com países mais cautelosos, como Japão e União Europeia. O Ministério da Agricultura trabalha em parceria com o Itamaraty para reverter o quadro com base em evidências técnicas e relatórios de vigilância sanitária.
Enquanto isso, a reabertura da Bolívia é celebrada como um gesto de confiança e abre caminho para novas conversas diplomáticas. Para o setor, a esperança é que o episódio sirva de exemplo de que o controle de surtos sanitários deve ser tratado com equilíbrio, sem paralisar completamente cadeias produtivas inteiras. (Com informações do Portal Acre Mais)