Ruy-Cavalcante

Intervalo Cristão

Por

Ruy Cavalcante

Vamos falar sobre Cobertura Espiritual

Por Ruy Cavalcante

Em 2025, vinte anos se passaram desde que um familiar me afirmou, com a voz já alterada: “Ruy, nem mesmo se você me mostrar isso na bíblia eu acreditarei, pois eu acredito no que meu líder ensinou, eu aprendi assim e não vou mudar!”.

O susto ao ouvir isso foi grande e eu o considero um marco em minha vida. Foi neste dia que decidi nunca mais me omitir em relação ao ensino bíblico e comecei em casa. Desafiei este familiar a estudar os fundamentos da fé cristã durante um mês comigo, usando como única fonte literária, a bíblia. Para a Glória de Deus, após um mês tudo mudou e ela disse outra frase de extrema importância naqueles dias: “Ruy, como eu pude acreditar em tudo aquilo?”.

Mas a verdade é que eu tinha muita culpa no que estava acontecendo, pois mesmo observando o desenrolar das coisas, eu me omiti quando percebi que, ao deturpar o sentido de liderança cristã, estavam dominando a mente de tantas pessoas, a ponto de darem preferência a autoridades humanas, em detrimento da autoridade de Deus, através de Sua Palavra.

E qual era a justificativa para esse domínio? A “cobertura espiritual”.

Em termo gerais, Cobertura Espiritual refere-se à orientação e proteção recebida por um indivíduo a partir do momento em que se coloca sobre a “autoridade espiritual” de um líder, dentro de um contexto religioso. Nesse artigo, o contexto são as igrejas evangélicas, da qual faço parte, em especial as do movimento neopentecostal.

Quero iniciar o tema de maneira enfática. Sou absolutamente consciente e convicto ao falar que Cobertura Espiritual não é um ensino bíblico, sendo, portanto, maldito (Gl 1:8).

Quem abraça tal doutrina defende que (e não me digam que não, pois vivenciei isso) o nosso líder tem total autoridade sobre a nossa vida, ele é a nossa cobertura. Na verdade, aqui é realizada uma grande deturpação do que a bíblia ensina sobre liderança.

Vou deixar que neste momento a bíblia fale por mim:

“Todas as suas obras eles fazem a fim de serem vistos pelos homens; pois alargam os seus filactérios, e aumentam as franjas dos seus mantos; gostam do primeiro lugar nos banquetes, das primeiras cadeiras nas sinagogas, das saudações nas praças, e de serem chamados pelos homens: Rabi. Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi; porque um só é o vosso Mestre, e todos vós sois irmãos. E a ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque um só é o vosso Pai, aquele que está nos céus. Nem queirais ser chamados guias; porque um só é o vosso Guia, que é o Cristo. Mas o maior dentre vós há de ser vosso servo. Qualquer, pois, que a si mesmo se exaltar, será humilhado; e qualquer que a si mesmo se humilhar, será exaltado”. (Mt 23:5-12, grifo meu)

E ainda:

“E ele, sentando-se, chamou os doze e lhes disse: se alguém quiser ser o primeiro, será o derradeiro de todos e o servo de todos”. (Mc 9:35)

“…sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”. (Ef 5:21)

Ora, no cristianismo bíblico, se pudéssemos editar uma regra, esta seria “eu me sujeito a você e você a mim”. Doutra sorte, no movimento da cobertura espiritual, a coisa muda para “eu me sujeito a você e você manda em mim”.

Jesus foi muito claro a respeito deste assunto. Ele não anula o princípio da liderança, mas define que o único que possui domínio e autoridade sobre a vida pessoal de alguém é Ele Próprio, todos os outros são irmãos, não importando sua posição eclesiástica e se alguém desejar ser diferente, ser maior, então que seja o servo de todos. São coisas desse tipo que fizeram da doutrina cristã, loucura para o mundo.

Jesus é o nosso Senhor e não há outro além dEle. Ele não divide Sua Glória e Seu Domínio com ninguém (Is 42:8), toda autoridade está sobre Ele (Mt 28:18). Nós não podemos deixar o fardo suave de Jesus (Mt 11:30) por um novo jugo de homens dominadores:

“Na cadeira de Moisés se assentam os escribas e fariseus. Portanto, tudo o que vos disserem, isso fazei e observai; mas não façais conforme as suas obras; porque dizem e não praticam. Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; mas eles mesmos nem com o dedo querem movê-los”. (Mt 23:2-4, grifo meu)

Devemos obedecer aos nossos líderes, eles estão numa posição espiritual que lhes atribui este direito e esta responsabilidade, mas não devemos nos colocar sob o jugo deles, pois aqueles que tentam dominar nossas vidas não representam a vontade de Deus, mas a de si mesmos.

O verdadeiro líder é aquele que ensina o discípulo a guardar o que Jesus ensinou (Mt 28:20), é alguém que serve a todos (Mc 9:35), que exorta e aconselha segundo os princípios do Evangelho (At 14:22), que busca não ser pesado e que dá valor a cada um dos discípulos (II Co 12:14).

O texto de Mateus 23:1-12 (transcrito anteriormente) expõe toda a verdade necessária para a experiência de vinte anos. Líderes que se aproveitam de uma doutrina antibíblica para difundir seus próprios ideais, legislando sobre a vida pessoal de seus seguidores, mais do que se dispõem a defender a fé genuína do Evangelho de Cristo, não representam Cristo.

Não pretendo esgotar este assunto num único artigo, pois há muito que se falar a respeito. Por hora peço apenas que meditem nestas passagens bíblicas e avaliem por si mesmos esta doutrina esdrúxula que recaiu sobre nossa igreja e nossas mentes, e tomem a decisão de viver um cristianismo autêntico e bíblico. Eu não sou a fonte da verdade, mas a bíblia é.

Deus abençoe a todos com sabedoria e discernimento. Paz…

 

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