Uma tragédia chocante no litoral de São Paulo expôs mais uma vez o drama vivido por crianças e adolescentes negligenciados pela estrutura familiar e pela ausência do Estado. Uma adolescente de 14 anos confessou à polícia que ateou fogo no apartamento da própria família, no conjunto habitacional do CDHU do Cantagalo, no Guarujá, porque estava “cansada de cuidar dos irmãos mais novos”.
Trancados dentro de casa no momento do incêndio, um bebê de apenas 1 ano morreu carbonizado. Já o irmão, de 3 anos, sobreviveu às chamas e foi levado em estado grave ao Hospital Santo Amaro (HSA), onde segue internado na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP), de acordo com informações atualizadas pelo G1. O estado de saúde dele é considerado estável, mas inspira cuidados.
A adolescente, que foi apreendida pouco depois do crime, relatou à polícia que sua rotina incluía cuidar dos irmãos enquanto a mãe e o padrasto saíam para trabalhar todos os dias. Segundo o depoimento, o acúmulo de responsabilidades e a exaustão emocional a levaram à decisão de incendiar o apartamento com os dois meninos dentro. Após atear fogo, ela fugiu.
O incêndio ocorreu na tarde de domingo, 14, e rapidamente tomou conta do imóvel. Vizinhos chamaram os bombeiros, que controlaram as chamas, mas encontraram o bebê já sem vida no local. O caso causou comoção na comunidade e revolta nas redes sociais.
O delegado Luís Carlos Gazarini, da Delegacia Sede de Guarujá, informou que a adolescente será responsabilizada por atos infracionais análogos a homicídio duplamente qualificado, por meio cruel e uso de incêndio. O caso segue em investigação, e o Conselho Tutelar acompanha a situação da família.
Enquanto isso, moradores do CDHU do Cantagalo relatam que o abandono de crianças por adolescentes ou parentes mais velhos não é incomum. “Não é só sobre essa menina. A gente vê isso todo dia. Criança cuidando de criança. Famílias que não têm rede de apoio, e aí acontece uma tragédia dessas”, lamentou uma vizinha da família, que pediu anonimato.