Um dos posicionamentos mais firmes sobre a crise humanitária na Reserva Extrativista Chico Mendes veio do senador Alan Rick (UB), que em vídeo publicado em suas redes sociais denunciou o que classifica como “brutalidade da Operação Sussurranda”, deflagrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
“Esses produtores não são criminosos. São filhos da floresta”, disse o senador sobre a ação que resultou em múltiplas autuações, apreensão de rebanhos e ameaça de expulsão de famílias que há décadas habitam na Reserca Chico Mendes, em Xapuri.
Diante da crise instalada na Reserva, Alan Rick defendeu uma reavaliação urgente do modelo de subsistência das comunidades locais. Segundo o parlamentar, a ausência de políticas públicas efetivas e a inviabilidade econômica do extrativismo tradicional têm empurrado as famílias para práticas como a pecuária de subsistência e a agricultura familiar, atualmente únicas alternativas viáveis de sustento.
“O extrativismo tradicional não sustenta mais essas populações. A pecuária de subsistência e a agricultura familiar viraram a única forma de sobrevivência”, frisou.
Medidas urgentes
Diante da escalada da tensão — que levou inclusive à interdição da BR-317 por manifestantes —, o senador tomou medidas urgentes em Brasília. Ele protocolou ofício à Casa Civil da Presidência da República, solicitando a suspensão imediata das ações repressivas e a criação de uma mesa interministerial de diálogo, com presença dos órgãos ambientais, representantes locais, Ministério da Agricultura e entidades civis.
“O que essas famílias estão enfrentando hoje é resultado direto da ausência do Estado: falta de políticas públicas, de assistência técnica, de crédito rural, de apoio de verdade”, disse Alan Rick.
Além disso, o parlamentar revelou estar concluindo um projeto de lei que visa garantir segurança jurídica e alternativas produtivas sustentáveis para as comunidades da floresta, rompendo com a lógica punitivista que, segundo ele, “confunde crime ambiental com pobreza rural”.
Alan Rick também afirmou que está mobilizando toda a bancada federal do Acre e dos demais estados da Amazônia Legal para uma ofensiva conjunta em Brasília. O objetivo é pressionar o Governo Federal por soluções estruturais que combinem proteção ambiental com justiça social.
Uma fala que ecoa o silêncio do poder público
Enquanto o governo federal e estadual evita declarações públicas sobre os desdobramentos da operação, a fala do senador amplifica o clamor das famílias invisibilizadas pela narrativa oficial. Ao mesmo tempo em que repudia crimes ambientais, Rick cobra discernimento nas ações de fiscalização. “Proteger a Amazônia não tem nada a ver com punir quem sempre morou nela.”
Em sua declaração, o senador também denunciou o destino dos bois apreendidos — abatidos compulsoriamente, com a carne destinada à doação — e chamou atenção para a contradição entre discurso climático e prática institucional. “Esses animais são o sustento das famílias. Não se combate o desmatamento condenando os pobres”, disse.
Abate de rebanhos expõe contradições da operação
Um dos pontos mais críticos levantados pelo senador diz respeito ao destino dado aos bois apreendidos durante a Operação. Segundo ele, os animais — pertencentes a famílias que vivem há décadas na região — foram abatidos compulsoriamente, com a carne sendo posteriormente doada para o estado do Pará. “Esses animais serão mortos e a carne doada. Esses produtores não são criminosos, são filhos da floresta”, afirmou o senador.
O episódio evidencia uma inversão de prioridades e um possível descompasso entre a política ambiental e a realidade socioeconômica da Amazônia. Para Alan Rick, a ação representa não apenas uma perda material, mas um ataque direto à única fonte de renda e alimentação dessas famílias, agravando ainda mais a vulnerabilidade local.
Além da cobrança por medidas imediatas junto à Casa Civil, o parlamentar também defende uma reformulação nos protocolos de fiscalização ambiental em áreas habitadas, a fim de evitar excessos e garantir tratamento digno às populações tradicionais da floresta.
Próximos passos
Com o país em meio a debates sobre economia verde e créditos de carbono, a proposta de Alan Rick sinaliza uma agenda de reconstrução da política ambiental brasileira com base na inclusão e no diálogo. A mesa interministerial, se acatada, pode ser o primeiro passo para reverter a escalada de conflitos fundiários e ambientais na Amazônia acreana. “Seguimos firmes. Contem comigo”, finalizou o senador.