Acreanos convivem com precariedade extrema e dinheiro vira principal motivo de preocupação, aponta pesquisa

Foto Ilustrativa Internet

Uma nova pesquisa nacional da fintech Onze escancara uma realidade que já se impõe no Acre há tempos: o dinheiro é, disparado, a maior fonte de preocupação dos brasileiros. Dos mais de 8,7 mil entrevistados em todo o país, 49% afirmaram que vivem em constante angústia por conta das finanças. O número supera largamente outras fontes de tensão, como saúde (19%), família (15%), trabalho (7%) e até violência (7%). Em um estado como o Acre, onde boa parte da população vive abaixo da linha da pobreza e enfrenta uma combinação de desemprego, informalidade e abandono estrutural, os dados ganham contornos ainda mais alarmantes.

A pesquisa ouviu trabalhadores com carteira assinada, autônomos, servidores públicos, aposentados e pessoas desempregadas. De forma transversal, o estudo expõe um quadro de sobrecarga emocional agravado pela instabilidade econômica. No Acre, essa instabilidade se traduz em salários baixos, custo de vida elevado, transporte público falho e serviços essenciais que muitas vezes funcionam apenas no improviso — como escolas sem água potável ou postos de saúde sem medicamentos. Para quem vive essa realidade, a preocupação com dinheiro não é apenas mental: é concreta, cotidiana, visceral.

Segundo o levantamento, 51% dos brasileiros afirmaram que sua renda mensal não cobre os gastos — um salto de dez pontos percentuais em relação ao mesmo estudo realizado em 2023. No Norte, a tendência é ainda mais crítica. No Acre, quase dois terços das famílias vivem com até um salário mínimo per capita. Além disso, 63% dos entrevistados disseram não ter nenhuma reserva de emergência. E 15% já estão endividados e sem qualquer tipo de poupança. A margem para o desespero é mínima.

A situação se agrava ao observar os impactos emocionais. Mais de 70% dos entrevistados relataram sofrer de ansiedade, insônia ou depressão causadas diretamente pela pressão financeira. No Acre, esse tipo de sofrimento é multiplicado por fatores como a precariedade do saneamento básico, o déficit habitacional e a falta de acesso regular a alimentos de qualidade. Uma simples ida ao mercado representa, para muitos, um cálculo angustiante: o que levar e o que deixar. O que pode ser pago e o que precisa ser renegociado.

A pesquisa revela também um ponto fundamental: mesmo entre os que trabalham com carteira assinada, a segurança não é garantida. Entre 1.600 trabalhadores formais ouvidos separadamente, 74% apontaram o dinheiro como a principal fonte de preocupação, e mais de 40% disseram que a renda cobre apenas o básico. Em um estado onde as oportunidades de emprego com direitos garantidos são escassas, a informalidade transforma a sobrevivência em um malabarismo constante.

Não se trata apenas de crise financeira. O que está em jogo é a qualidade de vida, a saúde mental, a capacidade de projetar um futuro. Enquanto o governo do Acre destina R$ 8,5 milhões à renovação de contrato com empresa de jatinhos, comunidades inteiras permanecem à margem, vivendo sem saneamento, sem energia regular e sem qualquer segurança econômica. O abismo entre a elite política e a população que deveria ser prioridade salta aos olhos — e reforça o diagnóstico de um país que adoece por falta de dinheiro.

Em vez de planejamento financeiro pessoal, o que a maioria dos acreanos precisa é de políticas públicas estruturantes que garantam dignidade: renda, acesso a serviços básicos e respeito. A pesquisa nacional apenas confirma o que no Acre já é rotina: a pobreza deixou de ser estatística para se tornar um projeto mantido pela negligência.

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