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O Acre passou a aparecer no novo Mapa ORCRIM 2024, divulgado pela Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN), com três facções criminosas identificadas em atuação no estado: o Comando Vermelho (CV), o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Bonde dos 13. A inclusão do estado no levantamento acende um alerta para a importância da faixa de fronteira com Peru e Bolívia, hoje tratada como uma das principais rotas estratégicas para o tráfico internacional de drogas e armas. A localização geográfica, somada ao uso crescente do sistema prisional como centro de articulação, coloca o Acre dentro de uma engrenagem que vai muito além dos limites regionais.
De acordo com o relatório, o estado passa a integrar o grupo de unidades federativas onde facções de grande porte mantêm vínculos diretos com detentos e articulações externas. O movimento revela que a Amazônia deixou há muito tempo de ser considerada uma área isolada na dinâmica criminal brasileira. A disputa por rotas, rios e corredores logísticos já alcança o território acreano, reforçando a presença simultânea de organizações nacionais e regionais. O levantamento aponta que presos ligados ao CV, PCC e Bonde dos 13 formam uma rede de comunicação dentro e fora das unidades prisionais — estratégia que se tornou marca do crime organizado no país.
O Mapa ORCRIM 2024 indica a existência de 88 facções ativas em todo o Brasil, número superior ao registrado no levantamento anterior. A nova configuração é marcada pela pulverização desses grupos pelo território, com diferentes graus de influência e atuação. Embora apenas duas — PCC e Comando Vermelho — mantenham alcance nacional ou internacional, dezenas de outras operam de forma regionalizada, estabelecendo alianças, disputas e dissidências que variam conforme o contexto de cada estado. No caso do Acre, essa presença está ligada diretamente às rotas da região andina, o que amplia o interesse das facções por pontos estratégicos do território e reforça a necessidade de monitoramento constante das fronteiras.
A SENAPPEN destaca que a expansão das facções para áreas historicamente menos ocupadas, como Norte e Nordeste, é um dos movimentos mais marcantes dos últimos anos. A Amazônia se consolidou como corredor relevante para o tráfico, e o Acre, por sua posição e pela extensão de suas fronteiras, tornou-se parte central desse novo cenário. A disputa por rotas e territórios — antes concentrada sobretudo em capitais do Sudeste — migrou para regiões onde a presença estatal é mais rarefeita e onde a logística favorece o transporte ilícito de grandes cargas.
O crescimento no número de facções identificadas no país também reflete uma mudança estrutural no modo como essas organizações se articulam. A fragmentação, a formação de dissidências e a capacidade de rápida reorganização diante das ações de repressão produzem uma rede fluida e em constante movimento. Além disso, a interligação entre prisão e rua permanece como um dos pilares do funcionamento dessas organizações, que utilizam o sistema penitenciário não apenas como base de comando, mas como espaço de recrutamento, disputa e consolidação de poder.
