Enquanto pequenos produtores do Acre se esforçam para transformar a apicultura em uma fonte de renda digna e sustentável, um novo obstáculo internacional ameaça azedar esse doce caminho. A decisão dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelo presidente Donald Trump e prevista para entrar em vigor em 1º de agosto, já começa a provocar estragos — e deixa em alerta quem vive do mel na Amazônia e restante do país.
No último sábado, 12, uma das maiores cooperativas apícolas do Brasil, a Casa Apis, com sede em Picos (PI), teve a compra de 95 toneladas de mel orgânico cancelada por um cliente dos EUA. A carga, já embalada e pronta para atravessar o oceano, está agora parada no Porto do Pecém, no Ceará. Os contêineres ficaram ali, imobilizados entre a burocracia e a insegurança comercial. A cena é simbólica: o mel brasileiro ficou preso, mesmo depois de cumprir todas as exigências sanitárias e logísticas.
O impacto imediato recai sobre o Nordeste, mas o reflexo é nacional — e pode atingir o Acre em cheio. O estado, que ainda engatinha no volume exportado, tem apostado forte na estruturação da cadeia produtiva do mel, sobretudo com foco na produção orgânica e no uso de abelhas nativas sem ferrão.
Em 2025, o governo estadual intensificou os investimentos na área: só nos primeiros meses do ano, mais de 280 caixas de criação e kits completos de proteção foram entregues a produtores do Baixo Acre e do Vale do Juruá. Em Brasileia, uma nova Casa do Mel começou a ganhar forma com um aporte de R$ 500 mil, viabilizado pelo Programa REM Acre, com apoio da Alemanha e do Reino Unido.
Mas o anúncio da nova tarifa americana joga um balde de incertezas sobre esses planos. Com os Estados Unidos representando cerca de 80% das exportações brasileiras de mel, a imposição da alíquota de 50% faz com que muitos compradores recuem.