Acre lidera perda proporcional de floresta primária em 2024 no país

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Colapso ambiental no estado expõe falhas na prevenção de incêndios e ausência de fiscalização nas áreas mais críticas da Amazônia

O estado do Acre encerrou o ano de 2024 como um dos mais impactados pela perda de floresta primária no Brasil, segundo dados divulgados pela Universidade de Maryland em parceria com a plataforma Global Forest Watch. Em um cenário que já é crítico para os trópicos, o Acre registrou perda superior a 300 mil hectares de cobertura florestal, com destaque para a destruição de áreas de mata virgem – florestas que jamais haviam sido desmatadas.

A devastação foi impulsionada principalmente por incêndios florestais de grandes proporções, responsáveis por 70% da perda total. Esses incêndios foram agravados pela seca histórica que atingiu a Amazônia, considerada a pior das últimas sete décadas, aliada ao avanço desordenado da fronteira agrícola e à redução das ações de fiscalização ambiental.

Municípios como Feijó, Tarauacá, Manoel Urbano e Sena Madureira estiveram entre os mais afetados. Nesses territórios, comunidades indígenas, extrativistas e pequenos agricultores relataram longos períodos de fumaça intensa, aumento de problemas respiratórios e prejuízos nas atividades produtivas tradicionais.

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A situação no Acre contrasta com a tendência nacional. O Brasil, apesar de ter perdido 2,8 milhões de hectares de florestas tropicais primárias em 2024, apresentou queda em alguns dos principais estados da Amazônia Legal. No Acre, ao contrário, os alertas de desmatamento cresceram e colocaram o estado como líder proporcional de perda florestal na região.

A ausência do Estado é um dos fatores apontados por especialistas. Falta de estrutura nos órgãos ambientais, cortes orçamentários, pressões políticas contra fiscalizações e desmonte da política de prevenção a queimadas contribuíram para o agravamento do cenário.
Além disso, a fronteira do Acre com o Peru e a Bolívia segue como ponto sensível, por onde entram equipamentos, combustíveis e outros insumos usados no desmatamento ilegal, sem monitoramento efetivo.

Com a aproximação da COP30, que será realizada em Belém (PA), o Acre se vê diante de um paradoxo: embora tenha histórico de protagonismo em debates ambientais, está hoje entre os estados com maior índice de destruição de floresta primária. A crise vivida em 2024 expõe a urgência de um novo pacto estadual pela conservação, com fortalecimento da governança ambiental, valorização de modelos sustentáveis e combate efetivo às queimadas criminosas.

GCF Task Force

Em meio a esse colapso silencioso, o Acre sedia, de forma simbólica e contraditória, a 15ª Reunião da Força-Tarefa dos Governadores para o Clima e Florestas (GCF Task Force), que reúne representantes de onze países para debater soluções sustentáveis e justas para os territórios tropicais. Enquanto os discursos celebram a bioeconomia, a proteção de florestas e os mecanismos financeiros internacionais, o próprio estado anfitrião aparece como líder proporcional em perda de floresta primária no Brasil em 2024. A dualidade entre discurso institucional e a realidade em campo acende um alerta: o Acre precisa transformar protagonismo diplomático em ações efetivas no território.

Acre e a perda de floresta primária

Dados principais:

O Acre liderou a taxa de perda proporcional de floresta entre os estados da Amazônia Legal, considerando sua extensão territorial.
A perda foi significativamente maior em áreas não desmatadas anteriormente, ou seja, florestas primárias intactas.
Estima-se que mais de 300 mil hectares de cobertura florestal tenham sido perdidos no estado apenas em 2024, com 70% desse total associado a queimadas.

Municípios como Feijó, Tarauacá, Sena Madureira e Manoel Urbano concentraram os maiores focos de calor e áreas desmatadas.

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Principais causas:

  • Incêndios florestais agravados pela seca extrema, a pior dos últimos 70 anos.
  • Expansão da pecuária e agricultura sem controle fundiário efetivo.
  • Redução da fiscalização ambiental, especialmente nas áreas de fronteira com o Peru e a Bolívia.
  • Queimadas para “limpeza” de pastagens, que saíram de controle.

Impactos diretos:

  • Aumento nas emissões de gases de efeito estufa do estado.
  • Perda de biodiversidade, especialmente em áreas com espécies endêmicas.
  • Pressão sobre territórios indígenas e comunidades tradicionais.
  • Agravamento da crise hídrica e aumento de doenças respiratórias durante o pico da fumaça.
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