Acre busca protagonismo na nova era dos bioinsumos

Foto Ilustrativa web

Apesar de ainda dar os primeiros passos na estruturação de políticas públicas voltadas aos bioinsumos, o Acre reúne condições únicas para se tornar referência nacional na agricultura sustentável de base biológica. Com forte presença de agricultores familiares, diversidade de culturas e uma das maiores reservas naturais de microrganismos do país, o estado pode transformar desafios históricos em soluções inovadoras.

Municípios como Acrelândia, Capixaba, Brasileia e Xapuri já demonstram interesse crescente em incorporar práticas agroecológicas e sistemas integrados de produção, que se alinham naturalmente ao uso de bioinsumos. O avanço do café clonal em Acrelândia, por exemplo, tem impulsionado uma nova geração de produtores que busca aliar produtividade e sustentabilidade.

Segundo técnicos do setor agrícola, o uso de bioinsumos pode ajudar produtores acreanos a reduzir custos com agroquímicos, melhorar a saúde do solo e obter certificações que abrem mercados mais exigentes – tanto no Brasil quanto no exterior.

No entanto, o acesso ainda limitado à assistência técnica, a falta de laboratórios locais e a carência de regulamentação específica dificultam a expansão do uso em larga escala. A maioria dos produtos utilizados atualmente vem de outros estados, o que eleva o custo e dificulta a adaptação às condições locais.

“É preciso investir em pesquisa regional, apoiar a produção artesanal controlada de bioinsumos e fomentar parcerias entre universidades, cooperativas e o setor público”, afirma a engenheira agrônoma acreana Lorena Matos, que acompanha projetos de transição agroecológica no Alto Acre.

Entre as oportunidades, está o potencial da biodiversidade do estado para a produção de insumos únicos. O solo amazônico é rico em fungos e bactérias com propriedades ainda pouco exploradas. Além disso, o modelo agroflorestal adotado por muitas comunidades indígenas e extrativistas favorece um equilíbrio ecológico que pode ser potencializado com produtos biológicos.

A criação de um polo bioindustrial no Acre, com incentivo à bioeconomia e à pesquisa em biotecnologia, poderia posicionar o estado como líder em soluções sustentáveis para a agricultura tropical.

“O Acre tem tudo para se destacar: floresta, solo vivo, produtores comprometidos com a preservação e uma cultura de inovação no campo. Só falta mesmo a engrenagem institucional girar com mais força”, reforça Lorena.

Região Norte e o papel estratégico

Com uma das maiores biodiversidades do planeta, a Amazônia Legal abriga microrganismos únicos que podem ser usados para criar soluções biológicas eficazes no combate a pragas e na proteção de lavouras.

Nos laboratórios da Embrapa em Palmas (TO), pesquisas com bactérias extraídas de cactos já resultaram em produtos capazes de aumentar a resistência das plantas à seca. A tecnologia, segundo os cientistas, pode ser aplicada em larga escala em solos amazônicos, onde os impactos das mudanças climáticas são cada vez mais sentidos pelos produtores.

No Pará, Rondônia e Amazonas, produtores familiares e agroindústrias têm adotado soluções biológicas em sistemas agroflorestais, hortas comunitárias e culturas de valor agregado como o café clonal, o açaí e o cacau fino. O uso de bioinsumos se apresenta como alternativa viável ao alto custo de defensivos químicos e como caminho promissor para a certificação de produtos orgânicos e sustentáveis, cada vez mais exigidos pelo mercado internacional.

Em Rondônia, iniciativas públicas têm promovido cursos e capacitações sobre produção artesanal de bioinsumos. No Amazonas, o uso de extratos vegetais com ação antifúngica está sendo testado em áreas de produção familiar. Já no Pará, pesquisadores estudam o uso de microrganismos de solo amazônico para combater pragas em lavouras de dendê e mandioca.

O desafio, segundo especialistas, está em ampliar o acesso à tecnologia, fomentar pesquisas locais e garantir regulamentações mais ágeis para que os produtos desenvolvidos na região cheguem de forma segura e eficaz às mãos dos produtores rurais.

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